A febre amarela é transmitida por um mosquito infectado por seu vírus. Nas regiões de mata, os insetos dos gêneros Haemagogus ou Sabethes picam macacos com a doença e, então, podem passá-la a seres humanos nas redondezas. É plausível que o Aedes aegypti dissemine a febre amarela nas cidades, mas isso não ocorre há décadas.
Como os macacos pegam febre amarela
Um mosquito infectado dos gêneros Haemagogus ou Sabethes pica um macaco, que então começa a sofrer com a doença. Aí surge o problema: um inseto livre do vírus que chupa o sangue desse primata contaminado passa a carregar o causador da febre amarela. E então pode transmiti-lo para outro macaco, que pode espalhá-lo a outro mosquito…
É, enfim, um círculo vicioso que já ocorre há muitos e muitos anos nas matas brasileiras.
Do bicho para o ser humano
Os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes só circulam por áreas de mata. Agora, se uma pessoa visita uma floresta ou mora perto de outra, por exemplo, pode ser picada por um desses bichinhos infectados. E, aí, corre o risco de ter febre amarela silvestre.
Que fique claro: o macaco não transmite a febre amarela para seres humanos. Ele é tão vítima quanto nós. Matar esses animais só serve para dificultar o trabalho do governo em controlar eventuais surtos como os que estão afligindo São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Urbanização da febre amarela
Antes de tudo, vale destacar que esse fenômeno não ocorre no Brasil desde 1942. Mas do que estamos falando?
É possível que o mosquito Aedes aegypti, comum em diversas cidades brasileiras, pique uma pessoa que voltou de uma região de risco com o vírus da febre amarela no corpo. Diante disso, o Aedes pode armazenar esse agente infeccioso e, então, repassá-lo a outro ser humano que nunca visitou uma região de mata, por exemplo.
Se isso ocorre em larga escala, desenvolvemos um ciclo de multiplicação da febre amarela dentro de cidades grandes.
Veja: em vez de termos Haemogogus e Sabethes infectados picando macacos e, eventualmente, um ser humano explorador, passamos a contar com uma horda de Aedes aegypti disseminando o vírus aos milhares de seres humanos que estão apinhados em metrópoles.
E por que é tão difícil de isso ocorrer? Primeiro, seria necessário um número considerável de seres humanos infectados com febre amarela nas cidades grandes para serem alvejados pela Aedes.
Segundo: o vírus não fica muito tempo no nosso corpo. Ou ele é aniquilado pelo sistema imune ou causa estragos tão graves que nos levam à morte em alguns dias. De qualquer forma, o tempo que esse adversário da saúde fica à disposição do Aedes não é grande.
Além disso, especula-se que esse tipo de mosquito não é um excelente transmissor da febre amarela. Talvez ele não seja um hospedeiro ideal desse inimigo, o que dificulta o espalhamento.
Em outras palavras, só uma população muito grande de insetos conseguiria replicar a doença em seres humanos ao ponto de torná-la endêmica nas cidades grandes.
Some a isso o fato de que alguns habitantes das cidades já estão vacinados – seja por terem ido a uma zona de risco, seja por terem viajado para países em que isso é obrigatório. E, se um mosquito com febre amarela o pica, nada vai acontecer.
É por isso que, no fim das contas, não vemos a febre amarela em centros urbanos com frequência. Mas isso acontece: em 2015, a Angola sofreu uma grave epidemia de febre amarela urbana.
O que não quer dizer que boa parte do Brasil não seja considerada uma zona de risco – e, portanto, passível de vacinação. A extensão territorial do nossos país é significativamente coberta por mata ou está próxima delas.
Fonte: Exame.com / Victor Caputo