Joesley Batista, um dos donos da JBS, disse em entrevista à revista Época que Michel Temer é o "chefe" da "maior e mais perigosa organização criminosa desse país", estabelecida na Câmara dos Deputados. O empresário afirma que, junto com outros políticos do PMDB, como Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves e Geddel Vieira Lima, Temer montou um esquema para receber propina em troca de apoio no Congresso e em órgãos do governo.
"O Temer é o chefe da Orcrim da Câmara", diz Joesley. "Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles. Por outro lado, se você baixar a guarda, eles não têm limites."
O executivo destacou que o núcleo político comandado por Michel Temer foi o grupo "de mais difícil convívio" que ele já teve na vida. "Daquele sujeito que nunca tive coragem de romper, mas também morria de medo de me abraçar com ele."
Empresário afirma que Temer montou um esquema para receber propina em troca de apoio
Joesley ressalta que Geddel seria o principal interlocutor entre o empresário e Temer. "De 15 em 15 dias era uma agonia terrível. Sempre querendo saber se estava tudo certo, se ia ter delação, se eu estava cuidando dos dois. O presidente estava preocupado. Quem estava incumbido de manter Eduardo [Cunha] e Lúcio [Funaro, apontado como operador do ex-presidente da Câmara] calmos era eu."
Questionado se Geddel falava em nome de Michel Temer, Joesley responde, "sem dúvida". "Depois que o Eduardo foi preso, mantive a interlocução desses assuntos via Geddel. O presidente sabia de tudo. Eu informava o presidente por meio do Geddel. E ele sabia que eu estava pagando o Lúcio e o Eduardo. Quando o Geddel caiu, deixei de ter interlocução com o Planalto por um tempo. Até por precaução."
Segundo Joesley, existia uma hierarquia entre Funaro, Cunha e Temer. "A pessoa a qual o Eduardo se referia como seu superior hierárquico sempre foi o Temer. Sempre falando em nome do Temer. Tudo que o Eduardo conseguia resolver sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava para o Temer. Essa era a hierarquia. Funcionava assim: primeiro vinha o Lúcio. O que ele não conseguia resolver pedia para o Eduardo. Se o Eduardo não conseguia resolver, envolvia o Michel."
"O mais relevante foi quando Eduardo tomou a Câmara. Aí virou CPI para cá, achaque para lá. Tinha de tudo. Eduardo sempre deixava claro que o fortalecimento dele era o fortalecimento do grupo da Câmara e do próprio Michel. Aquele grupo tem o estilo de entrar na sua vida sem ser convidado", declarou Joesley, questionado se realmente precisava tanto do grupo de Eduardo Cunha, Lúcio Funaro e Temer.
Após o primeiro contato dos dois, em 2010, Temer teria solicitado favores ao executivo, como o pagamento do aluguel de um escritório em São Paulo. Joesley conta ainda que a relação com o peemedebista sempre foi institucional, "de um empresário que precisava resolver problemas e via nele a condição de resolver problemas".
O portal da revista publicou online apenas alguns trechos da entrevista, que também fala, entre outras coisas, sobre a forma como o PSDB de Aécio Neves entrou em leilões para comprar partidos nas eleições de 2014.
JB