Potencial de consumo é maior atrativo do País.

Quase metade dos analistas internacionais considera que crise é passageira e vê Brasil como terceiro melhor destino para investimentos em produção

O crescimento da inflação e do desemprego em 2015 impactaram na capacidade do brasileiro de consumir, mas 45% de empresários e analistas de mercado internacionais enxergam o potencial de mercado verde e amarelo como o maior atrativo para investimentos estrangeiros. A "Pesquisa de Perspectivas de Mercados Globais de Alto Crescimento", da consultoria KPMG, coloca o País em terceiro lugar no ranking mundial de melhores destinos para aplicações em produção, atrás apenas das superpopulosas China e Índia. 

Os dois líderes do estudo têm mais de 1 bilhão de habitantes, enquanto o Brasil está com 205 milhões, conforme projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas não é somente por ter a quinta maior população mundial, atrás ainda de Estados Unidos e Indonésia, que o mercado nacional chama a atenção dos investidores. "Temos uma população jovem, economia diversificada e uma democracia consolidada, pontos importantes para quem pretende investir por aqui", diz o sócio da KPMG e líder da prática de estratégia, Augusto Sales. Ele ressalta que a população brasileira é composta por um número grande de pessoas que estão no mercado de trabalho. "São mais pessoas que trabalham do que as que dependem delas para consumir. É um país com uma menor quantidade de jovens ou idosos que não trabalham", completa Sales. 

O sócio da KPMG lembra que o resultado significa que a maioria dos investidores acredita que o País tem bases sólidas para superar a crise econômica atual, o que faz com que voltem os olhos para vantagens do Brasil. Ele cita, por exemplo, recursos minerais e naturais, agricultura forte e muito espaço para crescer em eficiência em ambos. Apesar da desindustrialização dos últimos anos, ainda lembra que o País tem uma base considerável na manufatura. "Ao contrário da Argentina, por exemplo, fabricamos aviões, carros, computadores e, na América Latina, somente o México é assim", diz. 

Mesmo com as recentes quedas da cotação de commodities como o petróleo, a visão é que o cenário não será eterno. "Quem investe, com exceção do especulador, entra no País voltado para os próximos 30 anos", cita Sales. 

Vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Ary Sudan considera que há consenso de que a crise brasileira, apesar de dura, não será eterna. "Temos um mercado mais estruturado do que a Índia, por exemplo. Somos grandes em extensão, mas falamos a mesma língua, temos gostos parecidos e um grupo grande em ascensão econômica, com muito o que consumir." 

Sudan lembra do boom no comércio de imóveis, veículos, eletrodomésticos, móveis e celulares nos anos anteriores à crise econômica. "Alimentação, então, nem se fala, porque as pessoas começaram a ter acesso e passaram a consumir coisas diferentes, criar novos hábitos." 

CÂMBIO

A disparada da cotação do dólar é outra vantagem do Brasil. Conforme a pesquisa, investimentos do tipo fundo de private equity são atrativos para 25% dos estrangeiros. Nessa modalidade, há possibilidade de vantagem também para os empresários nacionais. Instituições compram participações para colocar dinheiro em empreendimentos ainda não listados na bolsa de valores, para alavancar seu desenvolvimento. De olho, claro, na possibilidade de lucrar em longo prazo. 

Com o real desvalorizado, ficou mais barato para investimentos dolarizados. O sócio da KPMG cita um caso recente no País. O fundo de private equity suíço Partners Group comprou 40% da rede capixaba Hortifruti, que tem 32 lojas e funciona como um sacolão e supermercado de luxo. Sales conta que o objetivo dos suíços é abrir mais 80 lojas nos próximos anos, apostando nos "novos hábitos de alimentação" citados por Sudan. 

O próprio diretor da Fiep é proprietário de uma empresa londrinense que mantém uma parceria com um grupo estrangeiro. A fabricante de baterias Rondopar firmou um acordo, em dezembro de 2014, com a Exide para ser responsável pela assistência técnica para grandes clientes corporativos no Brasil e na América do Sul, além de fabricar produtos da gigante norte-americana. "Esse tipo de parceria faz com que a empresa deixe de olhar para o próprio quintal e comece a olhar para o mundo. Ganhamos tecnologia, cultura e clientes", diz Sudan.

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