Dezenas de marmitas são jogadas no lixo todos os dias na cadeia pública de Umuarama. O motivo seria a rejeição dos presos aos alimentos, preparados em uma cozinha industrial contratada pelo governo do Estado. Segundo relatos ouvidos por OBemdito, é comum pessoas buscarem a comida para servir a animais em propriedades rurais da vizinhança.
O gasto estimado para os dois anos de contrato da empresa responsável é de R$ 5.460.161,11. Ao todo, são preparadas marmitas para 509 presos e cada conjunto de refeições (sendo café da manhã, almoço e jantar) custa R$ 14,18 por pessoa, de acordo com o exposto no site no governo do Paraná.
Várias fotos foram encaminhadas à redação do portal. Na imagem é possível contar pelo menos 160 marmitas, que parecem estar intocadas. Há também sacos plásticos com salada e pães. “A situação se repete diariamente. É revoltante ver tanta comida sendo jogada fora”, disse.
Familiares de presos reforçam a reclamação que ouvem dos detentos sobre a qualidade da comida. “Eles (presos) falam que é ruim e muitas vezes está azeda. É por isso que acaba sobrando muita marmita”, disse o irmão de um detento.
Um ex-preso contou que só comia em casos extremos, de muita fome, e que preferia esperar os mantimentos levados por parentes. “Às vezes a gente combinava de ninguém comer a marmita, como forma de protesto”.
Carceragem
Na última semana, a cadeia de Umuarama contava com 208 reclusos na carceragem. Por lei, cada um deles deve receber três refeições diárias (café, almoço e jantar). Procurado para falar sobre o assunto, o chefe regional de cadeia pública, Geraldo Andrade, limitou-se a informar aspectos técnicos sobre as refeições.
Segundo Andrade, a comida é feita com o acompanhamento de nutricionistas, que calculam as quantidades de proteínas, carboidratos e outros componentes. Andrade, que se demonstrou irritado durante a entrevista, ressaltou que o fornecimento cabe à empresa vencedora da licitação, feita pelo governo do Estado. “A comida não é de péssima qualidade, nem ruim. É balanceada”, defendeu.
Andrade admitiu que pessoas passam diariamente pegar as sobras de alimentos para dar aos animais e que não há como obrigar os presos a comerem as refeições. O chefe enfatizou que seu papel é apenas fornecer a comida.
Licitação
No site do governo do Estado consta que a empresa responsável pela alimentação dos presos em Umuarama e região é a Bom Degusty Assessoria e Alimentos Ltda, com sede em Hortolândia, no interior paulista, e cozinha industrial em Cruzeiro do Oeste. O contrato vigente foi iniciado no dia 1º de janeiro de 2016 e vai até 31 de dezembro de 2017.
OBemdito tentou contato telefônico com a empresa, mas não obteve sucesso. Em fevereiro do ano passado, uma equipe do portal acompanhou parte do trabalho da licitada, em Cruzeiro do Oeste. Para visitar o local, foi necessária uma autorização judicial.
Naquela reportagem, a empresa destacou que “a elaboração de alimentos segue os critérios exigidos por lei, com o acompanhamento de uma nutricionista que articula refeições balanceadas”.
Informou também que o processo de produção industrial e transporte da comida é fiscalizado pela Vigilância Sanitária. As informações foram repassadas por uma funcionária do setor jurídico. Na época, ela solicitou que seu nome não fosse identificado.
Sobre a reclamação dos presos quanto a qualidade das marmitas, a empresa argumentou que é preciso manter um padrão alimentar, para não prejudicar a saúde de pessoas com hipertensão, por exemplo. Refutou qualquer acusação de que servisse alimentos estragados.
Fonte: O Bemdito