Ex-presidente foi ouvido pelo juiz Marcelo Bretas como testemunha de defesa do ex-governador Sérgio Cabral

O ex-presidente Lula afirmou nesta terça-feira (5) em depoimento à Justiça Federal que o país vive um momento de "denuncismo" e que está "cansado de mentiras". Esta foi a primeira declaração pública do petista desde que foi preso há quase dois meses.

Ele depôs como testemunha de defesa do ex-governador Sérgio Cabral (MDB) na ação penal que apura suposto pagamento de propina a membros do COI (Comitê Olímpico Internacional) para a escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016.

"Lamento que venha uma denúncia de corrupção de delegado [do COI] oito anos depois. Não sei quem fez a denúncia, nem quero saber. Estamos vivendo no momento de denuncismo, em que muita gente", disse, antes de ser interrompido pelo juiz Marcelo Bretas.

Ao longo do depoimento, o magistrado evitou permitir que Lula fizesse discursos de ataque à Justiça. Logo no início do depoimento, Bretas fez o comunicado de praxe em que avisa testemunhas de que ela está obrigada a falar a verdade.

"Não acredito que haja um brasileiro mais em busca da verdade do que eu. Estou cansado de mentiras. Quero a verdade", disse ele, sendo interrompido pela primeira vez por Bretas.

O magistrado também prestou reverência ao ex-presidente ao fim do depoimento. Declarou que o petista era "uma pessoa importante para o Brasil" e comentou que esteve num comício de Lula na avenida presidente Vargas.

"Tinha 18, 19 anos e estava num comício na avenida Presidente Vargas com 1 milhão de pessoas. Estava lá, usando boné com o seu nome", disse Bretas.

"Quando fizer um novo comício, vou te chamar", respondeu Lula, para riso dos presentes à audiência.

Lula falou de dentro da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde está preso desde abril. O petista vestia o mesmo terno e gravata que utilizou no dia da vitória da cidade brasileira em Copenhague.

Minutos antes do depoimento, Lula procurou demonstrar bom humor. "Estou bonito hein. Essa gravata é da conquista das Olimpíadas", disse ele, ao se ver no vídeo.

"Carrego ela até ficar desmontada", disse o ex-presidente sobre a gravata verde, amarela e azul-marinho.

Antes do depoimento gravado, Lula pôde falar com Bretas. O juiz arriscou um chiste neste momento.

"Não fala mal de mim que eu estou ouvindo, hein."

"Eu sei. Estou com microfone aqui na frente", disse Lula.

O ex-governador Sérgio Cabral (MDB) assistiu pessoalmente ao depoimento. Antes do início da audiência, o emedebista pôde conversar rapidamente com o ex-presidente para prestar condolências pela morte de dona Marisa Letícia.

"Estava preso quando dona Marisa faleceu. Presidente, meu abraço ao senhor e meus sentimentos pelo falecimento de dona Marisa. Um abraço meu, da Adriana e dos meus filhos", disse.

"Obrigado Sérgio", respondeu o petista.

OLIMPÍADA

Lula negou que tenha ocorrido compra de voto de membros do COI, como acusa o Ministério Público Federal. O ex-presidente relatou como abordou chefes de Estado e eleitores do comitê.

"Eu não sei qual o critério do cidadão que diz que foi trapaça [a escolha do Rio de Janeiro]. Esse cidadão não deve saber nada. O ambiente no COI era de muita seriedade", declarou o ex-presidente.

O MPF acusa Cabral, o ex-presidente do COB (COmitê Olímpico do Brasil) Carlos Arthur Nuzman e o ex-diretor da entidade Leonardo Gryner de ter pago US$ 2 milhões ao senegalês Lamine Diack. Há a suspeita de que outros membros do COI tenham recebido valores.

O ex-presidente afirmou que era natural o apoio de delegados africanos à candidatura brasileira.

"A África apoiar o Brasil era quase uma coisa óbvia. O Brasil era o país mais próximo da África. Eu viajei 34 vezes para África, visitei 29 países, abri 19 embaixadas na África. Isso dava aos africanos quase uma irmandade com Brasil", afirmou ele. 

Com informações da Folhapress.

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