Engana-se quem acha que brechó ainda é sinônimo de venda de produto velho e sem valor. O novo estilo de bazar com cara de loja de roupas novas investe em ambiente e marketing. Este novo conceito vem ganhando espaço no mercado e já abraça inúmeras cidades. Segundo o Sebrae, a economia de compras nestes locais vão de até 80% comparado às lojas tradicionais. A qualidade das peças aliada ao baixo custo é a grande aposta nestes estabelecimentos. O valor estético do local também atribui às vendas e possibilita maior rentabilidade.
A onda alternativa de compra também atingiu Paranaguá. A designer de moda Luiza Fontes é proprietária de um brechó no centro da cidade. Em menos de um ano o local é referência no nicho e faz muito sucesso nas redes sociais. “Tudo começou como uma brincadeira”, conta a empresária. Junto a sogra e cunhada, elas resolveram realizar um bazar e vender as próprias peças. Luiza vendeu tudo, gostou e resolveu abrir seu próprio negócio.
O local é amplo, bem arejado e as peças são expostas em araras semelhantes a uma loja padrão. Nas paredes, há quadros decorativos e uma gama de produtos perfumados espalhados pelas prateleiras. Os preços variam assim como numeração e marcas. Há seis meses o bazar conta com a interação entre classes sociais distintas, o que surpreende até mesmo a dona. “As minhas coleções são as pessoas, é por isso que todo mundo se encontra aqui”, diz.
A curadoria das coleções é feita sob número de cadastro nas etiquetas e ninguém sabe quem é o fornecedor primário das roupas. Muitas vezes, o cliente acaba comprando todas as peças do mesmo código, ou seja, de um mesmo fornecedor primário e se identifica mesmo sem saber. “É impressionante. Acontece várias vezes”, declara Luiza.
Para a stylist Thayga Abalem, o brechó é o centro de inspiração. Ali ela encontra peças únicas, muitas vezes de décadas passadas que continuam versáteis e bem conservadas. Ela ainda conta que preza por roupas fashionistas e fora do comum independente do valor. “Onde tem roupa tem moda. Eu amo mergulhar e encontrar aquela relíquia. Tenho muitas peças de brechó que dão resultado em looks incríveis. Sem contar que ajuda no desenvolvimento. Super uso”, revela.
Assim como a ideia sustentável do brechó, a moda precisou se adaptar a esse pensamento devido aos consumidores adquirirem cada vez mais essa consciência. A stylist menciona que até mesmo o governo começou fazer exigências nesse sentido às fábricas. Ela comenta que mesmo na época da faculdade havia essa preocupação, entretanto, o aspecto se consolidou de maneira mais firme recentemente e que estes bazares são uma boa alternativa ao planeta. “Nada é mais sustentável do que roupa que já existe. O meio ambiente precisa de atitudes relacionadas a isso”, considera.
SUSTENTABILIDADE
De acordo com especialistas, há fortes indícios que o setor de vestuário esteja entre os mais poluentes. Já a revista Forbes avalia que 10% do carbono produzido na atmosfera é referente à indústria têxtil. “Essas linhas de produções são compostas por várias etapas que podem causar vasta degradação ambiental, seja na liberação de gases, ruídos, consumo de embalagens, além do uso de produtos químicos com alto grau de toxicidade que de certa forma são nocivos à natureza”, argumenta a bióloga e pós-graduanda em biologia marinha Amanda Porrua.
O engenheiro e professor da UFPR Aguinaldo Santos compartilha do mesmo pensamento, entretanto, analisa que a “contribuição é dependente do comportamento do consumidor.” Santos também é pós-doutor em design sustentável pelo Politecnico di Milano na Itália. Segundo ele, a redução do “fast-fashion”, termo utilizado para a política de produção de moda rápida globalizada nos anos 90, está também associada às soluções ambientais. “Um segmento ainda muito pequeno dos consumidores alcançaram este status de pós-materialismo. Reduzir a rápida obsolescência estética da moda seria uma enorme contribuição para a sustentabilidade”, opina.
Este consumo desenfreado e prematuro do vestuário é também alvo de estudos. Segundo a pesquisa da Harvard Bussiness School, o descarte de uma peça usada até cinco vezes e jogada após um mês é responsável por 400% a mais de emissão de carbono comparado a peça utilizada por mais de 50 vezes em um ano. Para o estudante de engenharia ambiental Leandro Alves, a cultura do utilizar uma vez e descartar causa grande impacto devido aos milhares de resíduos descartados diariamente. Leandro também fez parte do grupo de pesquisa do plano de gerenciamento de resíduos para municípios de pequeno porte pela UFPR Litoral. “Quando reutilizamos qualquer objeto e prolongamos sua vida, prolongamos a vida útil dos aterros, diminuímos a proliferação de vetores e começamos a entrar num ciclo que contribui significativamente ao meio ambiente”, explica.
A reutilização de vestimentas seguida ao consumo consciente são fatores elementares na preservação do planeta. “E eu sempre falo para as minhas clientes que tem que comprar consciente, comprar coisas de qualidade e que durem. Usar mais e fazer durar”, instrui a proprietária do brechó.
Gabriela Vizine / NP