Equipamento que a Romanelli, de Cambé, irá exportar para o Paraguai
Foto: Ricardo Chicarelli
Com a crise econômica no Brasil, direcionar esforços para o exterior foi a saída encontrada por empresários da indústria da construção civil para garantir um fôlego no caixa e melhores perspectivas de negócios futuros. O movimento é baseado em melhores perspectivas de renda e na necessidade de obras de infraestrutura em países vizinhos, como o Paraguai.
A fabricante de implementos Romanelli, de Cambé, e a construtora Plaenge, de Londrina, são exemplos de empresas que se prepararam ao longo dos anos para exportar em momentos de crise de demanda interna. No caso da indústria de equipamentos, a participação das vendas para 25 países cresceu de 10% para 40% do faturamento desde 2014, garantindo empregos de 240 funcionários. A construtora também tem a receita pela atuação no Chile crescente, hoje em 15% do total.
A estratégia, no entanto, foi diferente. Os irmãos Ilson e José Carlos Romanelli identificaram em 2013 que o governo federal não teria recursos para manter a rotina de obras dos anos anteriores e decidiram fortalecer os contatos no exterior. Para tanto, investiram US$ 200 mil na participação em feiras de maquinário pesado, voltadas para compradores internacionais, e na renovação tecnológica. "Tivemos o terceiro estande mais visitado da feira de 2014 em São Paulo", diz Ilson, diretor industrial da empresa. "E 90% dos equipamentos com evolução em tecnologia que lançamos foram vendidos ao mercado externo", completa.
O executivo afirma que a Romanelli é pioneira no desenvolvimento de uma máquina para o tratamento superficial com asfalto de borracha reciclada de pneus, que chamou a atenção até mesmo de chineses e norte-americanos. "Dos nove equipamentos apresentados na feira de 2014, oito eram modelos de lançamento, então você tem de se reinventar. Se esse tipo de produto não cabe no mercado, tenho de ter o produto para atender o cliente que tem dinheiro limitado", cita Ilson.
Esse contato com o mercado internacional não era novo para a Romanelli, mas deixou de ser o foco com o fortalecimento do real. Sem preços competitivos, a representatividade das exportações caíram de 40% no início do milênio para 5% em 2007. Porém, após 2013, a indústria voltou à carga em busca de clientes e se aproveitou da disparada da cotação do dólar a partir de 2015. "Dos R$ 3 em diante eu fico competitivo. Se baixar disso, não consigo vender lá fora", diz Ilson.
EXECUTIVOS NO CHILE
Para a Plaenge, não houve um direcionamento de empreendimentos para o Chile, onde atua desde 2009. No entanto, o grupo direcionou um grupo de altos executivos para o país andino nos últimos meses, diante do sentimento de compasso de espera no Brasil. "O mercado está mais aquecido por lá e existe a necessidade de pessoas mais experientes, em função do maior crescimento por lá", diz o diretor da Plaenge Fernando Fabian.
A construtora comprou em 2016 um terreno de 44 mil metros quadrados em Santiago, por R$ 45 milhões. A área é suficiente para a construção de dez torres altas, com o primeiro lançamento previsto para 2019. A localização é próxima a um condomínio empresarial em desenvolvimento, que abriga os escritórios de muitas das principais empresas chilenas e de multinacionais.
Fabian lembra que a Plaenge não deixou de trabalhar em solo brasileiro, com três obras em andamento em Curitiba e uma em Londrina, por exemplo. Contudo, considera acertada a estratégia de ter um segundo país como mercado para momentos de crise no Brasil. "O Chile é um país com baixo risco para investimento externo, de economia aberta a estrangeiros e com bastante segurança jurídica, tributária e institucional", diz. "O outro motivo era a diluição de risco de negócios", completa.