Tucanos governistas tentam adiar ruptura, mas ala mais jovem da sigla pressiona para se afastar de gestão envolvida em suspeitas de corrupção
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Maior adversário do PT e pilar do consórcio governista de Michel Temer, o PSDB vive um conflito de gerações movido a preocupações eleitorais. Enquanto a ala jovem do partido quer distância do Planalto, a velha guarda tenta preservar a imagem de responsável pelo equilíbrio institucional que mantém a política econômica e as reformas. O dilema será discutido em reunião nesta segunda-feira (12) à tarde em Brasília.

Ao cabo, o que o PSDB busca é evitar ser contaminado pela crise ética que assola o Planalto. Embora algumas de suas principais lideranças estejam sob investigação na Lava-Jato, os tucanos vislumbram a possibilidade real de vencer as eleições presidenciais de 2018. Na projeção dos mandarins do partido, esse suposto favoritismo decorre da frágil situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — réu em cinco inquéritos e na iminência de ser condenado pelo juiz Sergio Moro — e da ausência de candidatos competitivos no PMDB.

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O que causa dissenso é a forma como se credenciar à predileção dos eleitores. Para a bancada da Câmara — chamada de cabeças pretas em oposição ao tom grisalho do cabelo dos senadores —, o PSDB precisa abandonar Temer o mais rápido possível. Os cabeças brancas rejeitam uma saída intempestiva.

— O partido está muito dividido. Olha para os dois lados ao mesmo tempo: se sair, praticamente liquida as reformas. Se ficar, sustenta um governo malvisto pela população — afirma um espectador dos bastidores tucanos.

Caciques ameaçam faltar ao encontro

A mediação entre as duas alas vem sendo feita pelo presidente interino da legenda, senador Tasso Jereissati (CE). Alçado ao cargo após o titular Aécio Neves (MG) ser afastado do mandato de senador, Tasso tem buscado serenar os ânimos. Precavido, decidiu esperar o veredito do julgamento da chapa vencedora em 2014 no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas a absolvição do presidente não facilitou a tomada de decisão. Na quinta-feira, Tasso chegou a dizer que, se o TSE inocentasse Dilma Rousseff e Temer, "a casa cai", pois seria complicado explicar apoio a um presidente cujo mandato o próprio PSDB tentou cassar na Justiça. Agora, o partido terá de decidir também se recorre da absolvição ao Supremo Tribunal Federal (STF).

— Nossa ação era contra Dilma. Temer só virou presidente após o impeachment. O cenário agora é outro — tenta amenizar o líder no Senado, Paulo Bauer (SC).

A indefinição é tamanha que, embora essa seja a terceira vez que Tasso estipula uma data para o partido discutir a relação com o governo, é possível não haver definição. Alguns dos principais caciques tucanos podem não comparecer à reunião. Secretário-geral do PSDB, o deputado federal Silvio Torres (SP), um dos parlamentares mais próximos do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirma que o gestor paulista e outros governadores avaliam não comparecer.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não irá ao encontro, segundo sua assessoria de imprensa, pois tem uma reunião no Instituto FHC.

— A ideia é não tomar uma decisão amanhã (hoje). Será mais ouvir os diversos segmentos. É muito curto o tempo entre a decisão do TSE e a reunião — disse Torres.

Nos bastidores, tucanos argumentam que, após o TSE, é preciso agora esperar a denúncia contra Temer que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve enviar até o fim de junho.

— Temos que nos preocupar também com os 14 milhões de desempregados no Brasil e, sobre esse aspecto, é que o PSDB deve decidir — afirmou o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP).

Há ainda no cenário a possibilidade de um meio termo. A "saída branca" do PSDB do governo teria uma declaração formal de que a sigla desembarca, mas ministros tucanos poderiam permanecer como cota pessoal de Temer. Além disso, sinalizou o próprio Tasso no final da semana passada, sair do governo não significa votar contra as reformas.

Por apoio em 2018, PMDB cobra "reciprocidade"

Com quatro ministérios — Cidades, Direitos Humanos, Relações Exteriores e Secretaria de Governo — e a segunda maior bancada na Câmara e no Senado, o partido foi aliado de Temer desde a construção do impeachment de Dilma. Ganhou cargos na Esplanada, gabinete no Planalto e poder de decisão nos rumos da economia. Quando as delações da JBS vieram à tona, o ministro das Cidades, Bruno Araújo (PE), chegou a escrever carta de demissão, mas foi convencido por Tasso a recuar.

O senador entende que, além do apoio político, o PSDB serve como avalista do governo junto ao mercado e ao setor produtivo, interessados na aprovação das reformas trabalhista e da Previdência. Para o PSDB, essa aliança é conveniente, pois uma vez aprovadas as mudanças, os tucanos não teriam o desgaste de tomar medidas impopulares semelhantes caso vençam eleições em 2018.

O cálculo político que conduz os passos de Tasso também leva em conta a necessidade de apoio do PMDB na próxima disputa presidencial. Nos últimos dias, diante do crescente desgaste de Temer, o senador deu sinais de que passou a sucumbir às pressões dos cabeças pretas do partido. Logo foi confrontado por uma ameaça explícita do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).

— Se o PSDB deixar hoje a base, vai ficar muito difícil de o PMDB apoiá-lo nas eleições de 2018. Política é feita de reciprocidade — alertou Jucá.

No Planalto, o risco de um desembarque do PSDB é motivo de preocupação constante. Para monitorar o humor do partido, Temer busca amparo nos ministros Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo) e Aloysio Nunes (Relações Exteriores), que seguem fieis.

Outro que tem trabalhado para manter a aliança é Aécio, sobretudo pelo temor de que o rompimento leve o PMDB a votar pela cassação do seu mandato no Conselho de Ética. O governador Geraldo Alckmin, e o prefeito de São Paulo, João Doria, também afiançaram apoio a Temer. A incógnita nesta equação é a postura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mentor dos cabeças brancas.

Fábio Schaffner / Zero Hora/* Colaborou Caio Cigana, com agência

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