A cada 19 horas uma pessoa LGBT morre no Brasil vítima de violência devido à sua opção sexual ou de gênero. Como nem todos os casos são notificados oficialmente pelas autoridades a estimativa é que esse índice possa ser muito mais alarmante. Os dados foram apresentados em palestra na manhã desta quarta-feira (5) pela advogada Ana Zaickuk Raggio, da Secretaria de Estado da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos (SEJU), durante evento que discute as “Políticas Públicas na Intersetorialidade junto à população LGBT”.
O evento foi uma promoção da Secretaria Municipal de Saúde, por meio do Núcleo de Prevenção à Violência, Promoção da Saúde e da Cultura da Paz, em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde, por meio da 1.ª Regional de Saúde, e Pastoral da Aids. O evento ocorre desde o começo da manhã e segue até o final da tarde, no auditório da 1.ª Regional de Saúde, em Paranaguá.
“O Brasil foi o país que mais registrou mortes de pessoas LGBT entre 2008 e 2014. O número é superior ao registrado em países que proíbem a homossexualidade e adotam a pena de morte para punir seus cidadãos. (…) Todos são iguais, mas não são tratados da mesma forma. Há uma necessidade de desconstrução dos preconceitos”, revelou a advogada durante a palestra, que tratou especificamente das políticas públicas para a população LGBT.
A coordenadora do Núcleo de Prevenção à Violência, terapeuta ocupacional Helenize Zanon, afirma que essas políticas públicas para a população LGBT são importantes, dentro da intersetorialidade. Ela afirmou que tem ido às unidades básicas de saúde para fazer as fichas de notificação de violência, “porque a subnotificação, principalmente entre o público LGBT, é imensa”. “Temos que receber essas pessoas sem distinção, respeitando a diversidade”, salientou a profissional, que destacou ainda o apoio recebido da secretária municipal de Saúde, Lígia Regina Cordeiro de Campos, para executar o trabalho do órgão, que não pôde ir ao evento devido agenda em Curitiba, mas enviou como representante a superintendente de Gestão em Saúde, Gisele Ferro.
Sula Ferreira, coordenadora da Pastoral da Aids, justificou a presença da entidade ligada à Igreja Católica no evento. “Não devemos nos omitir diante das causas sociais, dos conflitos e da violência. Caminhamos juntos. É a Igreja que acolhe, que está junto em todos os momentos. Temos várias pastorais e somos parceiros”, completou a dirigente.
A juíza Cíntia Graeff, da 1.ª Vara Criminal de Paranaguá, ressaltou a importância do debate e do estudo como sendo essenciais para obter “resultados em busca de uma sociedade menos violenta, preconceituosa, e para que se possa fazer valer aquilo que é previsto na Constituição e em relação aos direitos sociais, para que as garantias não sejam só palavras, letras e normas esquecidas, mas garantias dos indivíduos, indistintamente. Gostaria de ressaltar também o comprometimento do Poder Judiciário nesta luta, neste engajamento. Mais uma vez nos colocamos à disposição para o diálogo, para a conversa, para que possamos sempre andar de mãos dadas todos os poderes, todos os setores da sociedade, para que alcancemos juntos esse desiderato”, completou a magistrada.
Merieli Zanicoski, diretora da 1.ª Regional de Saúde, também destacou a importância do acolhimento à população LGBT. “Isso faz toda a diferença. Essas pessoas são vítimas de muito preconceito e da violência. Em nossa rede, não só na Saúde, mas em outras áreas, esse atendimento tem que ser de total acolhimento, de carinho, de buscar respeitar e entender esse público, sem preconceitos, acima de tudo”, salientou a dirigente.
A programação do evento ainda incluiu palestras sobre os dados epidemiológicos de violência, com Emerson Luiz Peres, psicólogo metre do Centro de Epidemiologia, da Divisão de Vigilância em Doenças e Agravos Não Transmissíveis(DVDNT), da Secretaria de Estado da Saúde. No período da tarde ocorreu mesa redonda com o tema “Compartilhando Experiências”, com Marcos Cláudio Signorelli, Ph.D. em Saúde Coletiva e professor da disciplina na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e representante do movimento Trans do Estado. Ao final do evento Emerson Luiz Peres voltou a dar palestra, desta vez para prestar esclarecimentos sobre ficha de notificação, conhecimento e sensibilização. Em seguida houve debate e encerramento.
SECOM