Policiais civis de todo o Paraná começaram o mês de agosto fazendo um dia de greve em todas as delegacias. Nesta segunda-feira (1º.), as atividades como escolta e proteção de presos, que os policiais julgam desvio de função, não serão feitas em todas as delegacias. O atendimento à população, de acordo com o Sindicato das Classes Policiais Civis do Estado do Paraná (Sinclapol-PR), não vai ser afetado.
Conforme o Sinclapol, todas as delegacias do estado participam do ato. Por um dia, os policiais civis vão realizar somente serviços que fazem parte das próprias atribuições. “Essa é a nossa forma de mostrar descontentamento, fazendo somente o que nos compete, porque ultimamente temos feito muito mais do que isso. Não reconheceram nosso esforço, por isso vamos trabalhar dentro da legalidade”, disse o presidente do Sinclapol, André Gutierrez.
Em Curitiba, os policiais se mobilizaram e se encontram em frente ao prédio do Instituto de Identificação do Paraná, na Rua José Loureiro. De lá, eles devem seguir até a frente do Palácio do Governo, no Centro Cívico.
Em nota divulgada no site do Sinclapol, o sindicato pediu ainda para que os policiais civis que estiverem com coletes balísticos vencidos, para leva-los consigo. A ideia é fazer uma entrega simbólica ao governador Beto Richa, assim como foi feito em várias delegacias do Interior.
Revolta é geral
O indicativo de greve foi dado no dia 22 de julho. A paralisação é um estopim dos policiais. Isso porque, de acordo com o sindicato, em diversas delegacias do Paraná os policiais civis são obrigados a trabalhar até 80 horas semanais, quando a atribuição é de somente 40.
O motivo principal da manifestação é mostrar a indignação da categoria com as promessas não cumpridas do atual governador, Beto Richa. “Temos negociações com o governador que vem desde o primeiro mandato, mas ele não fez nada do que prometeu. Não foi pago promoção, nem progressão e dissidio”, disse André Gutierrez.
Outra promessa que não teria sido cumprida é a de que os policiais não cuidariam dos presos das carceragens de delegacias. Hoje, o Paraná abriga 9 mil detentos que continuam sob vigilância dos policiais, conforme a categoria. No Norte do Estado, nas cidades de Jandaia do Sul e Ivaiporã, cerca de 40 presos fugiram na última semana.
Para dar conta de toda a demanda, o efetivo necessário hoje no estado seria de pelo menos oito mil policiais civis. Atualmente, o efetivo da corporação é de aproximadamente 7 mil policiais, mas destes, apenas pouco mais de quatro mil pessoas, entre delegados, escrivães e investigadores, estão na ativa.
Em uma carta de repúdio, escrivães alegaram que, além da falta de funcionários, pesa também a necessidade de assumir tarefas distintas para as quais foram empregados. No documento, a classe ressalta que o Paraná possui atualmente 725 escrivães, mas que o mínimo necessário para suprir toda a demanda da segurança pública seria de 1,4 mil. “Nossa carga de trabalho é gigantesca, gritante e desumana”, diz a nota.
Expediente
Durante todo o dia, as delegacias devem permanecer abertas, conforme o Sinclapol. Porém, os policiais vão fazer somente os atendimentos à população. “Nosso serviço não será afetado, pois vamos continuar trabalhando, mas apenas da forma que deveríamos. Essa foi a nossa maneira de mostrar descontentamento com a forma que somos tratados”, explicou André.
Diretores do Sinclapol vão visitando as delegacias da capital, para dar apoio aos policiais de plantão. No site do sindicato, a nota ainda alerta aos policiais para que, caso tenham algum problema, entrem em contato com o Sinclapol que um diretor vai ser encaminhado até a delegacia.
Outro lado
A paralisação dos policiais foi objeto de estudo na Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná (Sesp) desde a aprovação do indicativo de greve. Segundo a Sesp, desde o dia 21 de julho, os 1.201 agentes de cadeia contratados pelo Processo de Seleção Simplificado (PSS) iniciaram suas atividades dentro das carceragens das delegacias de todo o estado vigiando os detentos.
Em nota, a Sesp afirmou que está ciente da situação de presos em delegacias e que, para acabar com o problema, já iniciou, em conjunto com a Paraná Edificações e o Governo Federal, 14 obras de construção e ampliação de unidades prisionais. Com isso, devem ser abertas quase 7 mil vagas. A perspectiva é que dez das 14 unidades sejam entregues no ano que vem e as demais em 2018.