Agravação de uma reunião entre donos de empresas de ônibus do Rio e o ex-presidente do Detro (Departamento Estadual de Transporte Rodoviário) Rogério Onofre indica que Jacob Barata Filho concordou com o pagamento de propina de R$ 1 milhão mensais ao agente do Estado.
O áudio foi encontrado na caixa de e-mail do próprio Barata Filho. Ele mostra Onofre se queixando do fato de ter recebido R$ 600 mil nos últimos meses, quando julgava ter acordado R$ 1 milhão. Os empresários, por sua vez, argumentam que os R$ 400 mil faltantes só seriam pagos quando houvesse "tarefas" a serem cumpridas.
Barata Filho é alvo de investigações que apuram o pagamento, de 2011 a 2015, de ao menos R$ 500 milhões em propina para políticos a pedido de empresários de ônibus. O ex-governador Sérgio Cabral, de acordo com estas apurações, teria recebido parte da propina do esquema.
A existência do arquivo foi revelada pelo "Fantástico", da TV Globo, há um mês. À época, foi divulgado apenas o trecho em que Onofre se queixa, e José Carlos Lavouras, empresário do setor, argumenta. O áudio em que Barata Filho aparece é inédito.
Nele, o empresário, solto pela terceira vez da prisão graças a liminar do ministro Gilmar Mendes, concorda com o pagamento de R$ 1 milhão por mês desde que o então presidente do Detro abra mão da dívida que julga existir.
"Ou ele vai se convencer de que pra trás não existe e que é 1 milhão por mês a partir deste mês, tá certo? Ou então não vamos chegar a um denominador. E pra falar com ele eu vou ter que me aborrecer com ele. Porque não existe pra trás porque ele não fez porra nenhuma do que ele contratou comigo e vou ter que falar isso de qualquer maneira", disse o empresário a Marcelo Traça, ex-vice-presidente do conselho da Fetranspor (federação das empresas de ônibus).
Traça se tornou delator e identificou as vozes presentes no arquivo do e-mail. A mensagem foi enviada por Barata Filho a um correio eletrônico dele mesmo no dia 31 de agosto de 2011 sob o assunto "Maluco", com o qual Onofre era identificado, segundo as investigações.
Onofre é acusado de ter recebido cerca de R$ 40 milhões da Fetranspor em propina. No áudio, ele indica que deixava de fiscalizar os ônibus para receber o pagamento.
OUTRO LADO
A defesa diz que "não reconhece o áudio relativo a um diálogo alegadamente travado pelo empresário, já que o Ministério Público Federal (MPF) não realizou qualquer tipo de exame pericial".
"O MPF também não especificou a forma como o áudio foi obtido ou se o trecho incluído nos autos se refere à totalidade da gravação por ele obtido. O MPF tem juntado elementos aos autos da ação penal de forma extemporânea, dificultando o direito à ampla defesa", diz a nota. Com informações da Folhapress.