Maioria dos parlamentares preferiu não se pronunciar antes da votação, marcada para quarta-feira (2); sete anunciaram apoio ao presidente

Na história do País, Michel Temer é primeiro presidente da Repúbliaca denunciado ao Supremo no exercício do mandato

Na história do País, Michel Temer é primeiro presidente da Repúbliaca denunciado ao Supremo no exercício do mandato Beto Barata/PR

Apenas nove dos 30 deputados federais do Paraná declararam voto a favor da admissibilidade da denúncia por corrupção passiva contra o presidente Michel Temer (PMDB-SP). A maioria (14) preferiu não se posicionar ou adiantou ser contra o andamento das investigações (sete). O levantamento foi feito pela FOLHA, ao longo da última semana. 

A votação na Câmara está prevista para esta quarta-feira (2), após o fim do recesso parlamentar. A partir das 9 horas, o plenário vai decidir se a acusação da Procuradoria-Geral da República (PGR) deve ou não seguir para o Supremo Tribunal Federal (STF). Mesmo durante as férias, o Palácio do Planalto vinha trabalhando, nos bastidores, pelo arquivamento do caso. 


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Conforme reportagem da organização Contas Abertas, a União também liberou R$ 2,12 bilhões em emendas aos parlamentares nas três primeiras semanas de julho, o equivalente a quase tudo o que foi liberado nos seis primeiros meses de 2017. Tais recursos são previstos no Orçamento, mas a aplicação é indicada pelos deputados. 

Partidos de oposição atribuem a rejeição, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), do relatório de Sergio Zveiter (PMDB-RJ), que recomendava o prosseguimento da denúncia contra Temer, à liberação "ostensiva" de emendas. Os governistas, contudo, negam qualquer tipo de vantagem. Da mesma forma, rejeitam que houve oferta de cargos ou outros "agrados". 

Para que as investigações prossigam no STF, são necessários os votos de dois terços da Casa, isto é, 342 nomes. De acordo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a defesa de Temer terá 25 minutos para se manifestar. Já a votação poderá começar assim que ao menos 342 dos 513 deputados estiverem presentes. A chamada será nominal, nos mesmos moldes do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), há pouco mais de um ano. 

O relatório da PGR foi elaborado com base nas delações de executivos do grupo J&F, que controla a JBS. É a primeira vez que um presidente da República é denunciado ao Supremo no exercício do mandato. 


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OPOSIÇÃO

Entre os paranaenses que adiantaram voto a favor da denúncia as opiniões estavam divididas. "A denúncia é grave e há indícios de prática de crime comum. Por isso, ele [Temer] tem que ser julgado pela Justiça, por meio do STF. O País não pode mais ficar refém desses grupos e do jeito antigo de fazer política", opinou Aliel Machado (Rede). 

"A nós, da mesma maneira como aconteceu com a Dilma, cabe [permitir] que seja investigado. Vivemos num País onde a democracia impera e nada mais prático do que todos serem, se precisar, se tiver denúncia, investigados", completou Cristiane Yared (PR). 

"Nenhum brasileiro pode estar acima da lei, ainda mais o presidente da República, que é denunciado pelo Procurador-Geral da República por corrupção. Denúncia essa que tem provas robustas, como áudios, vídeos, mala de dinheiro... É vergonhoso a Câmara dos Deputados impedir o Supremo de julgar Michel Temer", disse Zeca Dirceu (PT). 

"As denúncias são graves e devem ser investigadas. Impedir o avanço das investigações e seu devido julgamento seria ampliar perigosamente o abismo entre a sociedade e as instituições", prosseguiu Luciano Ducci (PSB). Segundo Rubens Bueno (PPS), toda e qualquer pessoa deve ser investigada". "Os fatos são gravíssimos. Se o presidente se diz inocente, que mande investigar o caso até o fim. Não vamos julgá-lo. O Congresso não é uma Vara Criminal. Temos de seguir o que manda a Constituição." 

Na avaliação de Enio Verri (PT), sai muito caro para o Brasil essa instabilidade política. O petista acredita que a votação do dia 2 não terá quorum, como pregam os aliados de Temer, e que o fato de o voto ser nominal constrange muito. "Terão que defender um presidente corrupto, ao vivo e em cores. Sem prova nenhuma votaram pelo afastamento da ex-presidente Dilma, e agora terão uma grande contradição." 

GOVERNISTAS 

Na avaliação de Toninho Wandscheer, ex-deputado estadual pelo PT, mas atualmente no Pros, não há necessidade de "criar um problema maior" para o Brasil. "Tem de resolver o problema e não tumultuar mais do que já está. Ainda não temos a declaração do Rodrigo [Rocha Loures, ex-assessor de Temer] de que o dinheiro foi para ele. Então, temos de aguardar. O Ministério Público disse que tem mais duas denúncias. Na hora que ele mandar tudo, a gente dá uma avaliada." 

Nelson Padovani (PSDB) também contou que votará com Temer. "Sou governista e a favor que ele fique no governo. Investigação é problema do Poder Judiciário. Temos que resolver o problema da economia do Brasil. E entendo que ele tem a melhor equipe econômica (...) Olha, nós vamos aí entregar a presidência para o presidente da Câmara por seis meses, marcar nova eleição...? Já passou o tempo. Quanto custa para o País uma eleição precoce? A economia está começando a decolar. Não podemos mexer." 

O tucano garantiu que não recebeu oferta de emendas ou cargos. "Todo paranaense me conhece. Eu não me envolvo, não vivo ou voto por pressão, não peço nada ao presidente, nem nunca pedi. Voto com a minha consciência e fico com ele. Não sou beneficiado em nada. As minhas emendas são aquelas que todos os deputados têm", argumentou Padovani. 

O mesmo asseguraram Dilceu Sperafico (PP), Luiz Nishimori (PR), Takayama (PSC) e Evandro Roman (PSD). Conforme o pepista, os indícios apresentados até o momento não são suficientes. "Não existe comprovação dos crimes de que ele é acusado", afirmou. "É muito risco, faltando um ano e meio", acrescentou Nishimori, alegando ainda temer prejuízos na credibilidade internacional do País. "Vamos deixar o Judiciário julgar (…) Consultei minha base política e acredito que não é o melhor momento de tirar um presidente." 

"Se está ruim com Temer, pior sem ele (…) A economia está melhorando, as reformas precisam ser aprovadas e, como falta um ano para o término do mandato, neste momento o Brasil não aguentaria outro processo de impeachment", avaliou o político do PR. "Não me sinto pressionado porque, nas visitas que tenho feito à base, a maioria das pessoas se diz favorável à manutenção do presidente no cargo e rejeita a volta do PT ao poder", destacou Roman. 

João Arruda (PMDB) disse que, como peemedebista, deve votar contra também, entretanto, relatou que passou os últimos dias conversando com sua base e que poderia mudar de posicionamento. "Ele [Temer] vai responder de qualquer forma. O problema é o afastamento, com a possibilidade de absolvição, e essa instabilidade política que o País vai viver. Se fosse para fazer uma eleição direta amanhã, tudo bem. Essa situação é que na minha cabeça está esquisita ainda." 

Mariana Franco Ramos Guilherme Marconi Reportagem Folha de Londrina

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