A crise econômica que castiga o País há três anos gerou uma nova onda de migração de brasileiros. No período de 2011 a 2013, o número de Declarações de Saída Definitiva entregues pelos contribuintes à Receita Federal não chegava a 10 mil por ano. Em 2016 e 2017, passou de 20 mil por ano (ver quadro).
Outro dado que corrobora a existência de um movimento rumo ao exterior é o do número de passaportes emitidos pela Polícia Federal. No período pré-crise, seu crescimento esteve relacionado com o aumento de renda da população, que passou a viajar mais para fora. Hoje, apesar da retração do turismo internacional, as emissões continuam aumentando devido ao fluxo migratório.
Carolina Cordeiro, coordenadora do curso de Relações Internacionais da Uninter, de Curitiba, conta que a atual onda é diferente das anteriores. "Quem está saindo agora tem curso superior. São pessoas que vão trabalhar inicialmente em em funções menos valorizadas", afirma. Antigamente, a migração era feita por brasileiros sem formação superior, que não conseguiam se inserir no mercado de trabalho nacional.
MAIS DESTINOS
Outra diferença da nova onda migratória, segundo a professora, diz respeito aos destinos. "Antes, os brasileiros procuravam Estados Unidos, Japão e Europa." Hoje, vão menos para os Estados Unidos e Japão. Buscam Europa, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. E até Singapura e China.
"A desvantagem na China é a língua. Mesmo que, nas grandes corporações se fale inglês, trata-se de um inglês de difícil compreensão." Por outro lado, sustenta a coordenadora, não é difícil conseguir documentação e há muitas vagas para mão de obra qualificada. Também cresce a migração para Singapura. Mas lá, os brasileiros não buscam vagas de nível superior. Vão trabalhar em call centers que prestam atendimento ao Brasil. "Precisam de pessoas que falam o português. Pagam bem, e não há dificuldade de entrar."
Cônsul honorário da Itália, o empresário londrinense Bruno Veronesi diz que a procura pelo reconhecimento da cidadania italiana cresceu bastante. "Muitos nos procuram com a intenção de sair do Brasil definitivamente." Para ele, o fenômeno demonstra a descrença que o País está vivendo. "Essa pouca vergonha da corrupção se soma com as questões econômica."
Diferentemente de ondas migratórias anteriores, nas quais o marido ia trabalhar na Europa e deixava a família no Brasil, desta vez a Itália vem sendo procurada por jovens casais brasileiros. "Querem começar a vida num país diferente. Não acreditam mais no Brasil. É uma judiação."
SEM RETORNO
Quando o designer gráfico Reynaldo Costacurta, 30, de Curitiba, resolveu ir para a Itália, em 2014, a crise ainda estava começando. "Saí para fazer um master de dois anos em história da arte", conta. Ele conseguiu uma bolsa de estudo equivalente ao salário que recebia num escritório de contabilidade no Brasil.
Depois de obter a cidadania, mudou-se para Barcelona, na Espanha, onde prosseguiu os estudos e trabalha legalmente como freelancer. Embora a crise brasileira não seja a causa de sua mudança para a Europa, hoje ela é uma das razões pelas quais Costacurta não pretende retornar. "Minha intenção de voltar é nula. Aqui tenho mais possibilidades com salários melhores", disse ele à FOLHA pelo WhatsApp.
Nelson Bortolin Reportagem ESPECIAL - FOLHA DE LONDRINA