Após sobreviver aos 12 primeiros dias de crise, o presidente Michel Temer tenta conciliar os calendários do Congresso e da Justiça para demonstrar que é o único capaz de aprovar as reformas. A estratégia traçada pelo Planalto é levar as votações a plenário a partir de 6 de junho, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começa a julgar o pedido de cassação da chapa Dilma-Temer.
Para o governo, é fundamental ganhar tempo. Temer sonha com uma semana tranquila para recompor sua base de sustentação e ter um mapa fiel de quem está disposto a votar com o governo. A prioridade é a reforma da Previdência, cuja aprovação serviria como sinal de força política perante o mercado e o próprio Congresso.
O grau de adesão vem sendo medido pelos ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy. Na Câmara, quem faz essa sintonia fina é o líder do governo, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e o deputado Beto Mansur (PRB-SP), cujo trânsito entre todas as bancadas permite aferição mais precisa do plenário. Auxiliares do palácio e dos gabinetes parlamentares já tabelam o histórico de votações dos deputados, bem como as entrevistas concedidas em suas bases eleitorais e postagens em redes sociais.
— Na base, há dois motivos para não querer votar: medo de contrariar setores ou algum cargo ou emenda não resolvido no governo. Vamos atacar as duas frentes — afirma Carlos Marun (PMDB-MS).
A ideia é tirar cargos dos desertores, oferecer espaços para os indecisos e pressionar os financiadores das campanhas de cada parlamentar. Também há disposição de liberar recursos federais para os municípios indicados por quem assegurar apoio. Os ministros ainda foram orientados a dar entrevistas, mostrando que o governo não está parado.
No Senado, a prioridade segue sendo a reforma trabalhista, motivo de empurra-empurra e confusão entre os parlamentares na última sessão da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). O Planalto quer votar o texto no colegiado e aprovar urgência para levá-lo a plenário na semana do julgamento no TSE. Líder do PSDB, Paulo Bauer (SC) vê espaço para a manobra.
— O TSE vai analisar um processo, e nós vamos manter o nosso trabalho. Temer mostrou força na última semana, as coisas vão andar com dificuldade, mas vão andar — afirma o tucano.
A opção por reforçar a agenda na primeira semana de junho tenta assegurar votações antes que as bancadas do Nordeste saiam para as festas juninas e busca sinalizar ao TSE que o governo não acabou.
— O tribunal vai cassar um governo prestes a votar as reformas? — questiona o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).
Oposição tenta obstruir sessões
O Planalto também planeja uma contraofensiva com a CPI da JBS. Além de investigar as empresas do grupo, o governo irá tentar demonstrar que Joesley Batista prosperou durante os governos do PT graças aos financiamentos generosos do BNDES.
Na oposição, o objetivo é obstruir ao máximo as votações para evitar que os governistas usem o plenário como demonstração de força. Na quarta-feira, as bancadas contrárias a Temer abandonaram as votações na Câmara em protesto ao uso das Forças Armadas na contenção das manifestações contra as reformas. O expediente, porém, favoreceu o Planalto, que aprovou seis medidas provisórias em série e usou as vitórias como exemplo de que ainda detém o controle do Congresso.
— Sair do plenário foi um ponto fora da curva — admite a deputada Maria do Rosário (PT-RS).
O PT aguarda o ex-presidente Lula em Brasília na quarta-feira, véspera do congresso nacional do partido. Na ocasião, irão definir a posição a ser tomada numa eventual eleição indireta à Presidência.