"Pesado o negócio, né. Mas eu cuido da minha vida, se isso aí é fora da Câmara, não tenho nada a falar". Foi assim que o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) reagiu à denúncia de que o correligionário Marco Feliciano teria assediado sexualmente e procedido à tentativa de estupro contra a estudante de jornalismo Patrícia Lélis, 22.
A equipe de jornalismo do Estadão abordou Bolsonaro nesta segunda (8). De início, o parlamentar - autor de um projeto de lei sobre castração química de estupradores - reagiu mal à pergunta. Disse que não sabia do caso e não iria comentar. Informado da situação, foi sucinto e tentou não polemizar.
Na última semana, o jornalista Leandro Mazzini (UOL) divulgou mensagens de texto supostamente trocadas entre Feliciano e Patrícia, nas quais a jovem diz que ficou "assustada" com o deputado e que saiu de um encontro com "a boca machucada". Feliciano teria respondido que ela deveria "passar um batom" para esconder. Em outra passagem, diz que a parte que ele mais gostou foi quando agarrou Patrícia e viu sua expressão de "medo" enquanto ela dizia "não".
A jornalista relatou que foi convidada por Feliciano para ir ao seu apartamento funcional em Brasília, discutir sobre a UNE. Chegando lá, percebeu que era uma "armação" para que Feliciano lhe oferecesse dinheiro em troca de um relacionamento extraconjugal.
Patrícia, depois, se encontrou com o assessor de Feliciano, Talma Bauer, que teria tentado "reparar os danos" à imagem da jovem dentro do partido. Dias depois, a jornalista registrou boletim de ocorrência afirmando que foi ameaçada de morte pelo chefe de gabinete se não desmentisse, nas redes sociais, a acusação contra o deputado.
Nesta segunda, Mazzini publicou que a defesa de Patrícia vai "solicitar que a Procuradoria Geral da República faça a requisição imediata dos vídeos do prédio do apartamento funcional e do elevador do bloco onde reside o deputado federal".
À polícia, Patrícia também disse que "foi à liderança do PSC na Câmara dos Deputados denunciar Feliciano, por dois momentos, onde teria se reunido com o presidente nacional do partido, Pastor Everaldo. Os vídeos dos corredores da Câmara também serão requisitados." Segundo ela, Everaldo também ofereceu dinheiro em troca do silência.
Nesta segunda, Patrícia depôs ao Ministério Público Federal. O caso, segundo o jornalista do UOL, deve ficar com a própria subprocuradora-geral da República, Débora Duprat.
Feliciano gravou um vídeo e divulgou na internet no final de semana, alegando que sofre com as denúncias falsas da garota. Ele pede que as pessoas não o julguem até que a investigação seja concluída.