Com dificuldade de caixa, o governo do Estado conseguiu aval da Assembleia Legislativa para vender ações da Copel e da Sanepar até o limite da perda do controle acionário das companhias, ou seja, precisa manter 50% mais uma das ações ordinárias. No caso da companhia de saneamento, lei estadual exige que o Paraná mantenha 60% dessas ações, que dão direito a voto.
O projeto com a autorização foi aprovado na última terça-feira e seguiu para a sanção do governador Beto Richa (PSDB) com uma emenda, segundo a qual, as ações terão de ser vendidas pelo valor patrimonial. Mas, especialistas ouvidos pela reportagem não acreditam nesta possibilidade.
Só para se ter uma ideia, o valor patrimonial por ação (VPA) da Copel estava a R$ 57,31 dia 30 de junho, de acordo com balanço do segundo trimestre divulgado pela companhia. Naquele dia, a CPLE3, ação ordinária da empresa, fechou a R$ 20,04 na BM&FBovespa, ou seja, 65% abaixo do valor do balanço. Na última sexta-feira, encerrou a R$ 22,03.
O governo do Paraná detém 85,029 milhões, ou 58,6%, das 145,031 milhões de ações ordinárias da Copel. E pode vender cerca de 11,6 milhões sem perder o controle acionário. Em 30 de junho, esse pedaço da companhia valia R$ 664,7 milhões, segundo o balanço, mas apenas R$ 345,6 milhões, na Bolsa.
"Você tem um apartamento avaliado em R$ 400 mil pelo mercado. Chega alguém e paga R$ 800 mil. Ou a pessoa é louca ou sabe de algo que o mercado não sabe", afirma Marcos Piellusch, professor e coordenador de cursos da Fundação Instituto de Administração (FIA), de São Paulo.
A pedido da reportagem, ele fez um histórico da relação entre o valor patrimonial e o valor de mercado da ação CPLE6 (preferencial da Copel). O natural é que, no mercado de capitais, o preço seja maior que o do balanço. Em 2000, havia pouca diferença entre os dois valores da empresa paranaense. No período de 2005 a 2007, o mercado pagava mais que o valor patrimonial. Assim também foi em 2010. Mas, nos últimos anos, a tendência se inverteu. Em 30 de junho deste ano, a ação preferencial valia metade do valor de balanço.
Professor da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Guilherme Ribeiro de Macêdo também não acredita que o governo paranaense consiga vender as ações das companhias pelo valor patrimonial. "Mesmo que encontre um sócio estratégico, por que esse sócio pagaria o dobro pelos ativos?", questiona.
Para ele, o governo está certo em buscar diminuir sua participação nas estatais. "Outras empresas estaduais de energia elétrica venderam ações recentemente e passaram a ter um valor maior no mercado. Não é interessante que o governo tenha uma participação excessivamente majoritária", declara. Apesar disso, o professor afirma que, devido aos preços baixos das ações, não é o momento adequado para o governo fazer o negócio.
Macêdo considera que o mercado de capitais está "andando de lado". A Bolsa ultrapassou a barreira dos 50 mil pontos em abril, com o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). E agora está em compasso de espera pelas reformas prometidas por Michel Temer (PMDB): a da Previdência, a Trabalhista e a Tributária. "Uma derrota de Temer em alguma das reformas no Congresso seria um desastre. Levaria a Bolsa de volta à casa dos 40 mil pontos", afirma ele. Na sexta-feira, a BMF&Bovespa fechou a 58.697 pontos. "O mercado só vai ter nova melhora significativa após a aprovação de pelo menos uma reforma", declara.
Depois de analisar os balanços da Copel, o professor diz que os dados operacionais da empresa estão compatíveis com o setor. Questionado sobre o fato de as ações na Bolsa serem negociadas pela metade do valor patrimonial, ele afirma: "Quando o mercado precifica um valor menor, é sinal de que ele espera que essa empresa encolha no futuro. O mercado sempre se antecipa."
A equipe questionou o governo do Estado a respeito do descolamento entre os valores e se o projeto de lei que autoriza a venda de ações já foi sancionado pelo governador. A Secretaria da Comunicação Social diz que a matéria está sob análise de uma equipe técnica. "Somente após a sanção, o governo do Estado do Paraná irá se pronunciar a respeito dos assuntos tratados nos projetos de lei", diz a nota.