Propostas de fechar EUA para comércio internacional fazem cotação da moeda disparar no Brasil por aversão ao risco e liga alerta sobre alta de preços para próximos meses

A cotação do dólar sobre o real sofreu alta de 7,5% desde a quarta-feira passada, 9, quando o empresário republicano Donald Trump foi confirmado como presidente dos Estados Unidos, o que faz com que a preocupação com a redução da inflação e dos juros básicos no Brasil volte a ganhar força. As propostas de campanha do bilionário de endurecer as regras para o comércio internacional para elevar a taxa de emprego interna acenderam o sentimento de aversão ao risco por parte de investidores, o que diminui a circulação da moeda norte-americana em economias emergentes. 

Como a escassez, o valor do dólar aumentou de R$ 3,20 no último dia 8 para R$ 3,44 nesta segunda-feira, 14, de acordo com o Banco Central, em cinco altas consecutivas. Se essa tendência for mantida, a inflação oficial brasileira, que deu sinais de desaquecimento nos últimos dois meses, pode voltar até o início do próximo ano, dizem analistas. Ainda, a tese de que a taxa básica de juros, a Selic, que deveria sofrer novos cortes para contribuir para a retomada do crescimento econômico no País, deve ser evitada. 

Trump deu sinais de que não terá uma política tão agressiva quanto o discurso de campanha eleitoral nos EUA, o que não serviu para acabar com as incertezas. A aposta ainda é que ele diminuirá a abertura de mercado e elevará gastos públicos para gerar empregos e renda para a população local, o que fará com que o Federal Reserve (Fed), o banco central do país, eleve os juros para contrabalançar os efeitos na economia, deixando o dólar mais valorizado. "A incerteza está colocada na mesa e o dólar vai continuar valorizado até ser dissipada. Ou vai aumentar mais, se as dúvidas forem confirmadas", diz o presidente do Sindicato dos Economistas de Londrina, Ronaldo Antunes. 

No Brasil, ele considera que o reflexo sobre a inflação ocorrerá mesmo que a elevação na cotação seja de curto prazo. Como tudo na economia são expectativas, Antunes acredita que a esperada retomada do crescimento econômico projetada para o início de 2017 deve ser adiada. "Isso porque, de imediato, não aparece nos preços porque existem outros fatores envolvidos, como o preço menor da gasolina, mas a previsão de uma redução de juros mais forte nesse fim de ano já dá lugar à manutenção da taxa", completa. 

Consultor econômico da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), Marcos Rambalducci lembra que a dependência de insumos importados não é o único problema. "Se a cotação estiver alta e elevar as exportações de produtos agrícolas, teremos de pagar mais caro por eles para compras internas, como para ração", diz. 

Porém, o economista da Acil considera que o repasse demora até 90 dias para chegar às gôndolas e que, como a cotação caiu desde o pico trimestral, que foi de R$ 3,33 em 15 de setembro, a alta funciona como uma compensação. "Se permanecer assim até 15 de dezembro, então poderemos ter problemas a partir de fevereiro", diz. 

Rambalducci, no entanto, acredita que o mercado aceitará melhor a presença de Trump com o passar das semanas. "Ele começa a mostrar que o que ele quer fazer não é tão próximo do que a política pode permitir."

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