Treze milhões de brasileiros enfrentam o pesadelo do desemprego, um dos reflexos da pior recessão desde 1948
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São aproximadamente 13 milhões de brasileiros que vivem o pesadelo do desemprego, um dos reflexos da pior recessão desde 1948, quando teve início a série histórica divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As quedas do Produto Interno Bruto (PIB) registradas em 2015 e em 2016 somam 7,2%. O PIB representa a soma de todos os bens e serviços produzidos no País. No ano passado, houve retração nos índices relacionados à indústria, ao setor de serviços e à agropecuária. Países como a Grécia (0,3%) e a Rússia (-0,8%) obtiveram resultados melhores que o Brasil durante 2016. 

CORTES

Quem não tem mais gordura para cortar no orçamento é obrigado a abrir mão de serviços essenciais, como saúde e educação privadas. Em 2016, mais de 1 milhão de alunos migraram de escolas particulares para a rede pública. Já os planos de saúde tiveram cancelamento de 1,4 milhão de contratos. A técnica em enfermagem aposentada Neide Batista Venturini, de 56 anos, deixou de contar com plano de saúde por conta do alto custo. Para não depender do inchado Sistema Único de Saúde (SUS), ela passou a utilizar os serviços da Atend Já, uma das clínicas populares de Londrina. "É uma alternativa mais em conta", justifica. 

Neide diz que, se apertasse as contas, poderia até manter o plano de saúde, mas como sempre teve um perfil mais prudente com as contas, preferiu não arriscar. O medo é gastar mais do que pode. Conforme dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), quase 59 milhões de consumidores estavam inadimplentes em fevereiro. 

ESTAGNAÇÃO 

O professor do departamento de economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marcelo Curado, destaca que esta "é a mais dura recessão vivida no Brasil contemporâneo". "Traduzindo isso, se a gente dividisse tudo o que é gerado no Brasil pelo número de habitantes, é como se a gente praticamente tivesse regredido para o ano de 2010. A sociedade brasileira não consegue gerar mais produtos. Estamos praticamente estagnados", afirma. 

Segundo Curado, famílias das classes C, D e E foram as mais afetadas pelo ciclo formado pela redução no número de empregos, a queda na renda mensal, a diminuição no consumo e, consequentemente, na produção. "Toda crise traz um aprendizado. Neste caso, talvez a gente tenha acreditado que o Brasil tivesse chegado a um ponto de desenvolvimento que não chegou. Isso gerou um certo exagero e uma bolha de consumo", acrescenta. 

Recuperação a passos lentos 

A expectativa de recuperação do PIB com crescimento de 0,5% em 2017 ainda exige cautela por parte dos investidores e da população. "Eu poderia dizer que a gente parou de piorar. O mais grave da crise já passou, mas, por algumas questões econômicas, a gente não vai ter uma recuperação rápida. […] O PIB vai se recuperar antes dos índices de emprego. Essa é uma característica da economia. O emprego só vai voltar a ter um patamar de crescimento no final de 2018", alerta o professor do departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marcelo Curado. 

O professor ressalta que as famílias devem manter um padrão de consumo equilibrado, fazer a renegociação de dívidas, quitar débitos e, na medida do possível, poupar para enfrentar os próximos anos. "É importante não se deixar levar por uma pequena melhora na economia e fugir de financiamentos", orienta. 

O economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Fabiano Camargo da Silva, afirma que a reestruturação das empresas para enfrentar a crise também terá impacto negativo na geração de empregos. "Várias empresas demitiram e fizeram os seus ajustes. Muitas estão automatizando a produção. Ainda que a economia volte a crescer, essas empresas vão demandar uma quantidade menor de trabalhadores para produzir", analisa.

Famílias adaptam orçamento 

Com a recessão, o poder de compra dos brasileiros diminuiu. A retração foi de R$ 280 bilhões entre 2015 (-2,8%) e 2016 (-7%). Desde 2004, os recursos disponíveis para o consumo cresceram ininterruptamente a um ritmo anual médio de 2,5%. 

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