Durante depoimento, que durou quase cinco horas, ex-presidente foi questionado sobre a compra de um apartamento tríplex no Guarujá; audiência mobilizou 3 mil policiais
Ricardo Stuckert Filho/Instituto Lula/AFP

A primeira audiência em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou cara a cara com o juiz Sérgio Moro nesta quarta-feira (10), que durou cerca de cinco horas, é também a mais emblemática da operação até agora. O depoimento começou pouco depois das 14h e se encerrou às 19h20. Moro interrogou Lula por mais de três horas. Em seguida, ele respondeu a perguntas dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato e de advogados de defesa. Por fim, fez considerações finais. Durante o período, houve apenas um intervalo de 10 minutos para água e café. 

Os advogados de Lula deram uma coletiva no bairro Santa Felicidade (zona noroeste da capital) logo após a audiência, em que classificaram a ação de Moro na audiência como "política" e "parcial". A defesa reclamou que Moro fez perguntas sobre o sítio de Atibaia (que também teria sido um benefício para o petista) e sobre o escândalo do mensalão. Eles reforçaram que Lula é inocente das acusações. "Foi uma cena de perseguição política", disse o advogado Cristiano Zanin Martins. 

Lula responde inquérito sobre a compra de um apartamento tríplex no Guarujá, no litoral de São Paulo. Segundo a acusação, ele teria se beneficiado com R$ 3,7 milhões da empreiteira OAS entre 2006 e 2012. O petista é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. 

O petista chegou em Curitiba em um voo fretado pouco depois das 10h. Ele se encontrou com a ex-presidente Dilma Roussef e lideranças do PT no Paraná ainda no hangar do aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais. 

De lá, o comboio seguiu para o hotel Pestana, no Centro de Curitiba, onde parte da comitiva está hospedada. Cerca de 50 políticos do PT e partidos aliados, como o presidente da legenda Rui Falcão e o senador Líder das minorias Humberto Costa, viajaram a Curitiba para manifestar apoio a Lula. 

Um manifestante chegou a estourar um rojão na frente do hotel, com grito de "fascistas". Ninguém se feriu e a pessoa não foi identificada. 

Lula chegou para o depoimento pouco antes das 14h. Ele desceu do carro a poucas quadras da Justiça Federal, antes do bloqueio, para falar com manifestantes que o apoiam. Foi saudado e aplaudido. 

Depois da audiência, o petista se deslocou à praça Santos Andrade, espaço que teve atos em seu favor durante o dia é que chegou a contar com 5 mil pessoas, segundo a Polícia Militar. A organização do evento fala em 60 mil pessoas. 

POLICIAMENTO 

Mais de 6 mil pessoas se deslocaram até Curitiba em 128 ônibus para participar de atos políticos a favor e contra o ex-presidente, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp). A mobilização das forças policiais para garantir a segurança da audiência também foi uma das maiores dos últimos anos: 3 mil agentes das esferas federal, estadual e municipal - a metade do efetivo utilizado em um único dia durante os jogos da Copa do Mundo em Curitiba em 2014 (quando 7 mil agentes trabalharam para garantir a segurança) e superior ao cerco da Assembleia Legislativa depois da ocupação dos professores, no confronto de 29 de abril de 2015. 

Da Polícia Militar, 1,7 mil agentes foram deslocados do interior para ajudar no policiamento da capital. O perímetro do prédio da Justiça Federal foi isolado num raio de algumas quadras (cerca de 150 metros). Só foi permitida a entrada de moradores e mais de 700 jornalistas que se cadastraram. 

Centenas de policiais militares e federais faziam a guarda do prédio, que não teve expediente. Dois helicópteros da segurança pública sobrevoaram o local durante todo o dia. 

Amanda Audi/Folha Web

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ROTINA ALTERADA 

O depoimento alterou toda a rotina da cidade. Houve bloqueios de trânsito nas regiões da Justiça Federal, da praça Santos Andrade e do Museu Oscar Niemeyer, no bairro Centro Cívico, onde se concentraram os manifestantes a favor da Lava Jato. 

Houve alteração de linhas de ônibus e lentidão no trânsito durante todo o dia. Na região da Justiça Federal, a maioria do comércio não abriu. Poucos moradora curiosos saíram às ruas para ver a movimentação. 

A assistente previdenciária Nida Maria Cooper e a neta Sarah Lilit Zimmerman viram movimentação na frente da Justiça Federal de camarote. O escritório dela fica no prédio comercial que está sendo alugado por várias emissoras de TV e imprensa para registrar a entrada e a saída do ex-presidente Lula. Todos os clientes de Nída desmarcaram, mas ela foi ao trabalho para ver a agitação. A neta faltou aula com o mesmo propósito. "Achei que ia ser mais complicado, mas está correndo com paz. Vamos ficar até o fim pra ver se a gente vê o Lula", diz Nida.

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