Os gastos com medicamentos representam 5,96% das despesas em famílias com idosos, enquanto para a população em geral esse índice é de 3,06%
Inflação desses itens, medida pelo IPC-3i da FGV em 2016, foi a maior da série histórica. Foto: Shutterstock -
Os custos com medicamentos e com planos de saúde para os idosos sofreram um grande revés em 2016. A inflação desses itens, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade (IPC-3i), foi a maior da série histórica. O índice é calculado pela FGV/Ibre desde 2004. Os medicamentos ficaram 11,33% mais caros no ano passado. Os planos de saúde tiveram um acréscimo ainda maior: 13,2%.
E esses itens, conforme explica o superintendente adjunto para Inflação do FGV/Ibre, Salomão Quadros, pesam mais para o grupo da terceira idade. "As despesas com planos de saúde e medicamentos são maiores para eles do que para o resto da população." Para a população de todas as faixas etárias, os gastos com planos de saúde ocupam 3,94% das despesas da família. Já em famílias com idosos, esses gastos mais que dobram, e chegam a 8,62%. No caso dos medicamentos, as despesas também quase dobram – de 3,06% vai para 5,96% em famílias com membros da terceira idade.
Segundo Quadros, os planos de saúde foram influenciados, sobretudo, pela alta no preço dos serviços em 2016. "Os planos de saúde são vendedores de serviços, como hospitais, médicos, internações, aluguel de máquinas. E, nos últimos anos, tem havido uma subida na inflação de serviços. A inflação de serviços demorou a desacelerar, em 2014 e 2015 ainda estava muito forte." Já os medicamentos sofreram os efeitos da taxa de câmbio, já que muitos são importados ou possuem componentes vindos do exterior, diz o superintendente.
A professora aposentada Maria Clementina teve que cortar os gastos com lazer para manter o plano de saúde: "Só ele já leva quase o salário todo"
Foto - Anderson Coelho - FL
À mercê
Para a professora Maria Eduvirge Marandola, coordenadora do Projeto de Extensão "A Saúde Financeira da Família", do Centro Universitário Filadélfia (UniFil), é "preocupante" que a inflação de medicamentos e planos de saúde tenha crescido tanto, já que aposentados muitas vezes possuem uma renda pouco elástica e não têm possibilidade de retornar ao mercado de trabalho.
"Essa é uma notícia muito triste, pois sabemos que os idosos necessitam de medicamentos e planos de saúde. Quando as pessoas ficam mais idosas, ficam muito mais vulneráveis, à mercê." Como consequência, muitos idosos terão que retirar do orçamento itens igualmente importantes, como alimentos e itens relacionados à qualidade de vida, diz Maria Eduvirge.
A professora aposentada Maria Clementina Colito afirma com convicção que medicamentos e plano de saúde são as maiores despesas do orçamento de sua casa, mas são itens indispensáveis no dia a dia. "Tem que ter plano de saúde, e plano bom com boa cobertura. Mas só ele já leva quase o salário todo." Para piorar, alguns medicamentos que ela e o marido tomam não possuem versão genérica. Para poderem pagar remédios e plano de saúde com uma certa folga, Maria Clementina diz que corta os supérfluos. "Cinema, teatro, praia, algumas visitas a feiras, tudo o que é lazer. Não se vai mais viajar. Agora que a gente está aposentada, poderia viajar, mas não dá."
2017
Para Quadros, a perspectiva é que os preços dos planos de saúde continuem altos em 2017, mas não cresçam na mesma intensidade, pois outros serviços já dão sinais de desaceleração e houve uma grande diminuição no número de clientes de planos. O câmbio também vem caindo, o que pode trazer notícias melhores para os medicamentos. "Isso provavelmente deve trazer um certo alívio."