No seu primeiro discurso como presidente definitivo até 2018, Michel Temer adotou um tom duro e disse que não irá tolerar infidelidades na base aliada e não aceitará mais ser chamado de golpista. Em reunião ministerial no Palácio do Planalto, ele afirmou que divisões no Congresso Nacional de partidos que compõe o governo federal são "inadmissíveis" e "não serão toleradas". Ele tomou posse ontem no Senado em solenidade comandada pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), momentos após os senadores confirmarem por 61 votos a 20 o afastamento definitivo de Dilma Rousseff da Presidência da República. A petista, porém, com 42 a favor, 36 contra e três abstenções, manteve o direito de exercer funções públicas.
O discurso incisivo de Temer foi um recado aos senadores da base aliada que votaram a favor de Dilma Rousseff manter a habilitação para ocupar funções públicas, entre eles o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL).
O Senado Federal cassou o mandato da petista, mas tomou posição favorável a ela ao permitir que ela atue na área pública, o que irritou o novo presidente.
Segundo ele, não é possível que parlamentares governistas adotem posições sem combinarem com o Palácio do Planalto, uma conduta classificada por ele como intolerável.
"Não será tolerada essa espécie de conduta. Quem não quer que o governo dê certo, declare-se contra o governo e saia", disse. O novo presidente chegou a afirmar que a decisão foi tomada sem a consulta ao governo federal e está sendo vista como uma derrota do Palácio do Planalto.
"Não foi derrota, mas o discurso que tem sido feito é nessa direção, que membros do governo, sem consulta, se manifestaram contra o governo", disse.
Antes do início da reunião, o peemedebista reclamou com ministros a decisão e a avaliou como "inaceitável" e "inconstitucional".
Segundo ele, o resultado passará a mensagem pública que o governo federal foi derrotado em um dia em que saiu vitorioso por se tornar definitivo.
OFENSA
Em uma resposta a Dilma, que chamou de golpe o desfecho do processo de impeachment, Michel Temer ressaltou que agora o governo federal "não levará mais ofensa para a casa". Segundo ele, a ordem a partir de agora é contestar com firmeza e energia o discurso da gestão passada, ressaltando que não houve ruptura constitucional ou desrespeito à Constituição Federal. "Agora, não vamos levar ofensa para a casa", disse. "Nós precisamos responder. Se falou, nós respondemos. Não podemos deixar uma palavra", acrescentou.
O peemedebista reconheceu ainda que, a partir de agora, a cobrança ao governo federal será "muito maior" e que pretende fazer uma administração pública descentralizada.
CADEIA NACIONAL
Em seu primeiro discurso em cadeia nacional, Temer afirmou que, com a definição do processo de impeachment, a "incerteza chegou ao fim" e que o momento é de colocar os anseios nacionais "à frente dos interesses de grupos". Na gravação de cinco minutos, o peemedebista disse que na nova gestão terá o compromisso de dialogar democraticamente com "todos os setores da sociedade brasileira" e que respeitará a independência entre os Poderes da República.
"O momento é de esperança e de retomada da confiança no Brasil. A incerteza chegou ao fim. É hora de unir o país e colocar os interesses nacionais acima dos interesses de grupos. Essa é a nossa bandeira", disse.
"O meu compromisso é o de resgatar a força da nossa economia e recolocar o Brasil nos trilhos. Sob essa crença, destaco os alicerces de nosso governo: eficiência administrativa, retomada do crescimento econômico, geração de emprego, segurança jurídica, ampliação de programas sociais e pacificação do país", disse.
Ele defendeu ainda a necessidade de uma reforma previdenciária que garanta o pagamento das aposentadorias. "Nosso objetivo é garantir um sistema de aposentadorias pagas em dia, sem calotes e sem truques. Um sistema que proteja os idosos sem punir os mais jovens", disse.