Adolescentes e jovens que participam das ocupações de escolas no Paraná rejeitaram sair das instituições, mas disseram que "cada ocupação tem autonomia para fazer o que achar melhor" daqui por diante. A decisão foi tomada nesta quarta (27), em uma assembleia no Colégio Estadual Loureiro Fernandes, no bairro Juvevê, em Curitiba. Segundo o presidente da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes), Matheus dos Santos, mais de 600 alunos, de diversos municípios, sendo um representante de cada escola, estiveram na reunião. Eles chegaram por volta das 11 horas e saíram já perto das 17h30. Membros do Ministério Público, da Defensoria Pública e da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) acompanharam as discussões. A imprensa, contudo, não foi autorizada a entrar.
O grupo resolveu redigir e encaminhar ao governador Beto Richa uma carta, contendo uma série de reivindicações. Entre elas estariam uma possível "anistia" aos alunos e professores que lideram as ações, com a garantia de que não serão perseguidos pelas direções, e a criação de um comitê estadual de educação. Os jovens também devem pedir a Beto que ele protocole na Assembleia Legislativa (AL) um projeto de lei proibindo a implementação no Estado da medida provisória 746/2016, que reforma o ensino médio, flexibilizando o currículo. Outra questão levantada, e que será levada à gestão tucana, é a ideia de organizar uma conferência relativa ao tema.
Sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), os estudantes sugeriram que o Ministério da Educação (MEC) utilize escolas municipais. O chefe da pasta, Mendonça Filho, já tinha informado a pretensão de adiar as provas em 181 escolas, sendo 145 no Paraná, caso o movimento persista até 31 de outubro. Pelo menos 95 mil dos 8,6 milhões de inscritos seriam prejudicados. O certame acontece nos dias 5 e 6 de novembro. Ainda segundo o MEC, se necessária a aplicação do exame em outra data, os custos extras serão de aproximadamente R$ 90 por prova.
"Construímos uma grande assembleia, democrática, plural e diversa, que refletiu as ocupações", disse Santos. Na saída, os meninos e meninas entoaram gritos de guerra contrários ao governador e ao presidente Michel Temer. Depois, gravaram um vídeo dizendo que, "neste momento, todas as escolas do País devem se mobilizar". "O estudante se uniu. Ou para essa reforma ou paramos o Brasil".
As ocupações começaram no dia 3 de outubro, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, de onde se estenderam para diversas unidades da federação. A página do movimento "Ocupa Paraná" indica que 850 colégios, 14 universidades e 11 núcleos de educação seguem tomados no Estado. Conforme a Secretaria de Educação (Seed), porém, 159 instituições foram desocupadas desde segunda-feira, quando um adolescente morreu nas dependências de uma das escolas, em Curitiba.