Na “República de Curitiba”, Tadeu Veneri (PT) terá uma tarefa árdua pela frente. Em um cenário de golpe em curso e de descrença geral na política, o pré-candidato da capital paranaense desponta pregando um retorno às origens, às bandeiras históricas do Partido dos Trabalhadores e às alianças programáticas – e não pragmáticas.
“É uma campanha de resistência, de reafirmar o partido, de ter a clareza de que os propósitos que nos trouxeram aqui não foram em vão”, afirma o petista, que é deputado estadual da Assembleia Legislativa do Paraná.
“É uma campanha de resistência, de reafirmar o partido, de ter a clareza de que os propósitos que nos trouxeram aqui não foram em vão”
Veneri começou na política como sindicalista e até hoje possui um forte vínculo com os movimentos sociais. Em Curitiba, vai disputar com Rafael Greca (PMN), Gustavo Fruet (PDT), Requião Filho (PMDB), Ney Leprevost (PSD), Maria Victória (PP) e Luciano Pizzatto (DEM).
Para ele, essa eleição será mais simples, com menos dinheiro – o financiamento empresarial está vetado – e, por isso mesmo, pode se tornar uma janela de oportunidade para trazer as pessoas de volta ao bom debate político.
“É preciso fazer uma reflexão sobre as necessidades das pessoas no mundo real. Uma eleição voltada às coisas mais simples, resolvendo problemas pontuais e emergenciais”, explica. “É reencontrar o PT, e ao mesmo reencontrar a cidade. As duas coisas estão conectadas”.
A ideia, diz, é possibilitar uma Curitiba mais humana. “É primeiro resolver o problema do morador de rua, e depois do chafariz na praça”, afirma. “Menos investimentos em maquiagem, e mais em humanidades”.
“É primeiro resolver o problema do morador de rua, e depois do chafariz na praça”
Veneri acredita que Curitiba é uma cidade muito menos conservadora do que sua imagem transparece. “Para o setor conservador, é importante vender Curitiba como conservadora. É o discurso de que como as coisas sempre foram assim, elas vão continuar assim”, diz ele.
Mas essa não é a realidade. Como exemplo, ele lembra que a cidade recebeu o primeiro comício da campanha das Diretas Já, na década de 1980. “Ela não seria uma cidade conservadora com 382 áreas de subhabitação”, afirma.
Para o pré-candidato, existe um cenário de descrença na política. “Na campanha tem uma centena de promessas, mas são sempre alguns setores que são beneficiados”, explica. “Temos que encontrar uma janela de oportunidade para falar com setores da sociedade que nunca serão ouvidos. É esse o nosso principal papel”. Nessa campanha de humanização, Veneri quer apresentar alternativas ao que sempre foi feito. “As pessoas continuam vivendo em uma situação muito precária nas periferias, sem acesso aos bens básicos”, afirma.
“Temos que encontrar uma janela de oportunidade para falar com setores da sociedade que nunca serão ouvidos. É esse o nosso principal papel”
Golpe
Segundo Veneri, existe o risco de que o golpe contra a presidenta eleita Dilma Rousseff (PT) se torne uma referência negativa para as futuras gerações. “Vão achar que não é possível confrontar os donos do poder, porque quando eles têm uma migalha de seu poder contestado, reagem de uma forma avassaladora”, afirma. “O diagnóstico é ruim, mas o resultado não necessariamente”, explica ele, que acredita que é possível fazer esse enfrentamento.
Na análise do deputado, o setor conservador se aproveitou de uma conjuntura e derrubou não só a presidenta eleita, como também a crença das pessoas de que elas têm direitos. “A resistência nessas eleições é mostrar para as pessoas que elas podem ser donas do seu destino, propor soluções para seus problemas”, afirma.
“A resistência nessas eleições é mostrar para as pessoas que elas podem ser donas do seu destino, propor soluções para seus problemas”
O PT não fará nenhuma aliança na cidade (nem em nenhum outro município brasileiro) com partidos que apoiaram o golpe. Por enquanto, existe a possibilidade de uma aliança com o PC do B. “Não buscamos em nenhum momento alianças com partidos de direita ou centro-direita”, explica.
A seguir, a opiniões do pré-candidato sobre alguns temas da cidade:
Transporte: Para Veneri, é necessário abrir os horário de bilhetes de ônibus. O transporte em Curitiba funciona como um metrô urbano, em um sistema fechado e integrado. Se o usuário sair desse sistema, tem de pagar outro bilhete. Além disso, não possui integração com algumas cidades mais afastadas da região metropolitana. A ideia é que o usuário possa usar qualquer tipo de transporte em três horas, expandindo a integração.
Lixo: Outro ponto é aumentar a coleta de lixo reciclável, que segundo Veneri só corresponde a 5% do total. Além disso, a coleta atualmente é feita diariamente, e o lixo é levado a um aterro muito distante, gerando mais poluentes e estimulando a produção de lixo pela população. Para Veneri, seria necessário menos dias de coleta e aterros menores e mais espalhados, reduzindo custos financeiros e ambientais.
Informação: Outro problema apontado por Veneri é a gestão privada do sistema de inteligência da cidade. Hoje, uma só empresa controla todos os dados e sistema logístico da cidade, desde os terminais urbanos o sistema de 156 (de telefonia), a central de leitos. Isso é perigoso já que a cidade fica nas mãos de uma única entidade privada.
Segurança alimentar: Outro ponto é garantir que a merenda fosse proveniente da agricultura familiar, com a garantia de produtos orgânicos. “Hoje, não temos em Curitiba um plano de segurança alimentar”, afirma ele. “Isso criaria um processo virtuoso, porque cria emprego na região metropolitana”.
Cidade que eu quero: Essa é uma plataforma para que os cidadãos possam colaborar com a pré-candidatura. Segundo Veneri, a partir daí, estão sendo feitas reuniões com diversos setores, mulheres, artistas, para discutir a cidade. “Queremos fazer uma outra abordagem”, diz.