Curitiba - A morte de um adolescente de 16 anos dentro de uma das escolas ocupadas em Curitiba causou comoção entre alunos, pais, professores, integrantes de movimentos contrários e favoráveis aos protestos e representantes do governo do Estado. A vítima foi encontrada no Colégio Estadual Santa Felicidade. Socorristas tentaram reanimar o estudante, mas ele não resistiu aos ferimentos após se esfaqueado. Policiais civis e peritos da Polícia Científica foram chamados para atender a ocorrência.
De acordo com o secretário de Estado da Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp), Wagner Mesquita, o adolescente era aluno da escola ocupada por um grupo de estudantes em protesto contra a Medida Provisória 746 que promove alterações no ensino médio. O autor do crime, outro adolescente de 17 anos, também participava da manifestação.
"Segundo relato do autor do crime, eles dividiram uma droga sintética que chamam de ‘balinha’, compartilharam essa droga e ficaram alterados. Por conta disso, o grupo teria solicitado que eles se afastassem do movimento. Eles foram ocupar um local que chamam de alojamento, onde os jovens dormiam. Lá, se desentenderam, tiveram uma discussão, o menor [a vítima] teria partido para a agressão em cima do menor [autor do crime] que estava com uma faca de cozinha no bolso", resumiu o secretário.
A vítima foi atingida no pescoço. Segundo Mesquita, o autor pulou o muro e deixou a escola em seguida, enquanto o rapaz ferido saiu da sala em que estava e morreu no corredor. O adolescente de 17 anos foi apreendido em casa e, conforme o secretário, confessou o crime.
"Eu espero e acredito que esse caso sirva de exemplo e que esse movimento arrefeça, que os pais chamem a responsabilidade em relação aos seus filhos. Isso não acontecendo, estamos montando hoje um gabinete de crise para termos um panorama no Estado inteiro do grau e da quantidade de invasões e do andamento em cada uma delas", destacou Mesquita.
O movimento contra as mudanças no ensino médio teve início no dia 3 de outubro. Desde então, mais de 800 escolas foram ocupadas por alunos da rede estadual do Paraná. Denúncias sobre irregularidades nas ocupações serão investigadas pela Sesp. "Foi uma ocorrência pontual, mas foi uma tragédia presumida", afirmou.
Defensores públicos e advogados foram até a escola para acompanhar a investigação e dar suporte aos adolescentes que estavam no local do crime. "A defensoria vai tentar fazer o seu trabalho para que os outros adolescentes que estão aqui tenham acompanhamento por parte de psicólogos e assistentes sociais e também acompanhamento na delegacia", explicou o defensor público Eduardo Abraão.
A advogada Tânia Mara Mandarino afirmou que só conseguiu entrar na escola para acompanhar o depoimento dos adolescentes cerca de 30 minutos após o isolamento do local do crime. "Esse ódio todo insuflado pelo governo do Estado teve resultado. Agora temos um cadáver", declarou a advogada ao deixar o local. Conforme Tânia, os adolescentes mantidos dentro do colégio estavam em extrema fragilidade psicológica.
Nos últimos dias, movimentos contrários à ocupação protestaram para que as escolas retomem as atividades. No entanto, mesmo com a desocupação dos colégios, boa parte dos professores continua em greve em razão do anúncio de que a reposição salarial prevista para janeiro não seria paga.
Um grupo de alunos contrários ao movimento criticou a desorganização das ocupações. "Crucificaram a gente por ser contra. Entrava e saía quem quisesse [do colégio]", disse um dos alunos. Já a professora Loren Julia Reck, que atua no colégio há quatro anos, ressaltou que "a escola não tem histórico de violência e os pais estão sempre presentes". Segundo Loren, o Conselho Tutelar esteve na ocupação na semana passada e não encontrou irregularidades.
Por meio de nota, o governador Beto Richa lamentou a morte do estudante e renovou o apelo para que os alunos encerrem o movimento. "A ocupação de escolas no Paraná ultrapassou os limites do bom-senso e não encontra amparo na razão, pois o diálogo sobre a reforma do ensino médio está aberto." Em nota, o movimento "Ocupa Paraná" também lamentou a morte do estudante. No entanto, informou que a vítima não participava da ocupação da escola. "Neste momento queremos apenas prestar solidariedade à família de (...), família que perde um dos seus para o ódio, para a intolerância e para a violência", destacou.