O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que vai protocolar um pedido de impeachment do presidente Michel Temer na próxima segunda-feira (28), por considerar que o episódio envolve o chefe do governo em crime de responsabilidade. Para Lindberg, o presidente pressionou o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero para que este liberasse a construção de um edifício de alto padrão em Salvador no qual o ministro Geddel adquiriu um imóvel.
"Vamos entrar com pedido de impeachment porque houve crime de responsabilidade, tráfico de influência, ele desmoralizou a instituição da Presidência da República", disse o senador, acrescentando que está conversando com movimentos sociais e representantes da sociedade civil sobre o pedido.
Enquanto discursava no plenário, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) falou sobre a saída de Geddel e disse que o governo vive uma crise que pode prejudicar a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55, que cria um limita para os gastos públicos pelos próximos 20 anos, e tem votação prevista para a próxima semana.
"Temos duas grandes tarefas para a próxima semana. A primeira é impedir que a PEC seja discutida e votada na terça-feira [29]. Antes de se resolver essa crise que envolveu a Presidência da República, não há condições de discutir uma matéria de tal implicação para o povo brasileiro. A segunda [tarefa] é discutir com nossos pares e iniciar aqui procedimentos para que o Brasil tenha eleições diretas para a sucessão de Michel Temer", disse Gleisi.
Base aliada
Na opinião do senador Aécio Neves (PSDB-MG), o presidente Temer não exerceu qualquer pressão sobre o ex-ministro Marcelo Calero, para favorecer Geddel no episódio. "Não vejo dessa forma. Li nos jornais que o presidente da República sugeriu que esse processo fosse encaminhado para a AGU [Advocacia-Geral da União] para dirimir as dúvidas que pudessem existir ali. Se o presidente tivesse feito uma determinação para que se pudesse resolver o problema, seria diferente", afirmou Aécio, ao participar de um evento do PSDB na Câmara dos Deputados.
Sobre as informações de que o ex-ministro da Cultura teria gravado uma das conversas que teve com Temer, o senador disse também que seria um fato "extremamente grave" e "inaceitável". "É passível de punição um servidor público entrar no gabinete do presidente, num cargo de confiança, e gravar o presidente", afirmou Aécio. O senador ressaltou, porém, que, tanto ele quanto o PSDB entendem que o episódio não atinge o presidente da República.
Para o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), a saída de Geddel não vai dificultar a pauta de votações de interesse do governo no Congresso. "As votações não serão prejudicadas, uma vez que aquilo que o governo propôs e está tramitando aqui no Senado é aquilo que corresponde às necessidades do país e que tem o apoio não apenas do Senado, mas da população brasileira. É importante avançarmos num caminho de reformas sob pena de não sairmos da crise que estamos vivendo", afirmou o líder do governo.
Partidos
Em nota assinada pelo líder do governo no Congresso Nacional, senador Romero Jucá (PMDB-RR), o PMDB – partido de Geddel e do presidente Temer – "lamenta que o governo perca, neste momento, um político experiente e que estava dando uma importante contribuição no cargo que ocupava".
A bancada do PT na Câmara dos Deputados também divulgou nota na qual diz que o pedido de renúncia de Geddel "não elimina a necessidade de investigação dos atos irregulares cometidos por ele, por outros ministros e pelo próprio presidente Michel Temer". A bancada petista Informou ainda que vai requerer à Polícia Federal cópia do depoimento de Calero para análise e identificação de eventuais crimes cometidos.
Em nota, o PSOL informou que vai protocolar, na próxima segunda-feira (28), pedido de impeachment do presidente Temer, sob o argumento de que ele interveio junto ao ex-ministro Marcelo Calero em favor de interesses de Geddel e, assim, teria cometido crime de responsabilidade.
Caso
Após pedir demissão na última sexta-feira (18), o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero deu entrevista dizendo que foi pressionado por Geddel para liberar a construção de um edifício de alto padrão em Salvador, o ministro-chefe da Secretaria de Governo adquiriu um imóvel. O empreendimento foi embargado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) por estar localizado em área tombada como Patrimônio Cultural da União.
Na quarta-feira (23), em depoimento na Polícia Federal, Calero teria dito que o presidente Michel Temer o havia pressionada e sugerido uma saída por meio da Advocacia-Geral da União (AGU) para o caso.
Por intermédio do porta-voz Alexandre Parola, o presidente Michel Temer disse que buscou "arbitrar conflito" entre Marcelo Calero e Geddel Vieira Lima. Segundo o porta-voz, Temer negou ter pressionado Calero por uma saída do caso.