Só 7,3% dos alunos têm aprendizado adequado em matemática Quando consideradas apenas as escolas públicas, índice obtido por estudantes do ensino médio cai para 3,6%
foto reprodução
Dados de um estudo elaborado pelo Movimento Todos pela Educação, divulgados nesta quarta-feira (18), mostram que a situação é alarmante. Apenas 7,3% dos estudantes do 3º ano do ensino médio tiveram aprendizado considerado adequado em matemática em 2015. O índice é inferior ao de 2013, quando essa parcela era 9,3%. Em português, o porcentual foi de 27,5% ante 27,3% - o que indica uma estagnação, já que a variação de 0,3 ponto porcentual não é estatisticamente significativa. Os números são baseados no resultado da Prova Brasil e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), aplicados em 2015
O índice é ainda menor quando consideradas apenas as escolas públicas. Apenas 3,6% têm aprendizado adequado, o que significa que 96,4% não aprendem o esperado na escola. "É algo muito frustrante. A gente não está conseguindo avançar na gestão da política pública educacional", diz a presidente executiva do movimento, Priscila Cruz. A especialista aponta que a educação começa a se perder entre o 6º e o 9º ano. As melhorias nos anos iniciais, atingida em anos anteriores, não se confirmou no ensino médio.
"Cada vez mais as pessoas têm dificuldades para resolver operações básicas", comenta a contadora Andreia Cristina
Foto - Ricardo Chicarelli
Ela acrescenta que a matemática é uma disciplina cujo aprendizado é muito dependente da escola. "Se não aprendeu na escola, não aprende na vida. Diferentemente de leitura e interpretação de texto, que é algo que os estudantes acabam praticando fora da escola", pontua. De acordo com a definição do Todos pela Educação, o aprendizado adequado de matemática no ensino médio significa que os estudantes conseguem pelo menos resolver equações, determinar a semelhança entre imagens e calcular, por exemplo, a divisão do lucro em relação a dois investimentos iniciais diferentes. "É o mínimo adequado", diz Priscila.
Ana Lúcia da Silva, professora do Departamento de Matemática da Universidade Estadual de Londrina (UEL), expõe que, nos últimos 10 anos, os índices que mostram o desempenho dos alunos na disciplina só caíram. "São muitas as causas que podem ser destacadas, entre elas as péssimas condições de trabalho dos professores que, em alguns casos, trabalham 60 horas por semana. A formação continuada é falha. É preciso melhorar a infraestrutura nas escolas", aponta. Ela também defende o aumento da carga horária e a redução da rotatividade de disciplinas a cada aula de 50 minutos. "Não dá pra absorver nada."
Maria do Carmo alerta para a necessidade de mudança da forma como a matemática é ensinada. "O que temos são exercícios de fixação desconexos com a realidade. O aluno precisa saber aplicar aquilo que aprende no mundo real. Muitas vezes, ele até sabe resolver uma equação, mas não faz ideia do que aquilo significa", comenta. "A matemática está em tudo, até na música, por exemplo", diz. A professora acredita que o segredo está na boa formação já nos anos iniciais.
Para a contadora Andreia Cristina Portel Carmo, que trabalha em um escritório no centro de Londrina, a deficiência no aprendizado tem refletido no dia a dia das pessoas. "Você percebe que cada vez mais as pessoas têm dificuldades para calcular ou para resolver operações básicas como uma regra de três. Isso é muito grave", relata. Ela acredita que parte da culpa é a dependência da tecnologia. "Hoje tudo é o computador. Ninguém mais usa o raciocínio para fazer uma conta de cabeça. Parecem ter preguiça de pensar", avalia.
A coordenadora de avaliação da Secretaria de Estado de Educação (Seed), Katya Prust, admite não enxergar uma solução rápida para o problema. "Antes a escola tinha melhores índices, mas poucos estudavam. Era uma educação excludente. Hoje, trabalhamos com a equidade, que é o acesso de sujeitos muito diferentes à educação. Nesse contexto, vários fatores influem nos índices, como renda, vulnerabilidade social", lista.
Katya diz que a Seed faz readequações de currículos, revisão de planejamento e tem tomado ações pontuais analisando o caso de cada aluno individualmente. Além disso, ela defende iniciativas como a formação continuada de professores e o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), em que o professor se afasta da sala de aula por até um ano para se capacitar.
FL com Agência Brasil