Cunha sai do Plenário com gritos de Fora Cunha e forte esquema de segurança.

Quase um ano depois de se tornar alvo de um pedido de cassação, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) perdeu o mandato na noite desta segunda-feira (12). O placar foi 450 votos a favor e apenas dez contrários (nove abstenções). Eram necessários 257 votos (maioria simples entre os 513) para cassá-lo.

O peemedebista foi acusado de mentir à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, quando disse que não tinha contas no exterior, o que acabou desmentido por autoridades da Suíça.

Cunha já estava afastado do mandato. Com a decisão da Câmara, fica inelegível até janeiro de 2027.

Outra consequência da cassação deve ser a mudança do foro onde ele será investigado e julgado pelas acusações de ser um dos principais integrantes do esquema de corrupção na Petrobras.

Com o foro privilegiado que o mandato lhe conferia, Cunha responde a duas ações penais no Supremo Tribunal Federal, além de outras investigações relacionadas ao esquema.

Agora, seu caso pode migrar para a Justiça Federal no Paraná, sob os cuidados do juiz Sergio Moro - a expectativa, porém, é que Cunha tente manter de alguma forma os processos no STF.

Da tribuna, o ex-presidente da Câmara afirmou que seria cassado por motivos "risíveis", abrindo precedente para que "qualquer deputado" perca o mandato por acusações, segundo ele, frágeis. Em tom de recado, disse que, na média, 160 deputados respondem a acusações: "Amanhã será com vocês também".

Coube à deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ) um dos discursos mais duros contra Cunha. Adversária dele no Rio, ela chamou o peemedebista de "mafioso da pior espécie" e "psicopata".

DUELO

A queda final de Cunha ocorre 12 dias depois do afastamento definitivo de Dilma da Presidência. Os dois protagonizaram um dos principais embates recentes da política brasileira.

Um dos deputados mais poderosos, Cunha foi o responsável por dar curso e liderar na Câmara o processo de impeachment de Dilma, com quem rompeu em 2015.

O peemedebista havia sido eleito para a presidência da Câmara em fevereiro daquele ano derrotando o PT e o governo. Tendo como base de apoio o PMDB e os partidos do chamado centrão (PSD, PR, PP, PTB e PRB, principalmente), Cunha aplicou sucessivas derrotas ao Planalto, mas chegou a tentar um acordo com o governo que envolveria o enterro do impeachment e de seu processo de cassação. As tratativas falharam, porém.

No primeiro trimestre de 2015 haviam surgido as primeiras suspeitas consistentes de participação de Cunha no petrolão, o que levou o STF a incluí-lo na lista dos investigados.

Em abril, o jornal Folha de São Paulo revelou que o nome do peemedebista aparecia nos registros eletrônicos da Câmara como o real autor de dois requerimentos que, segundo a Lava Jato, foram usados para achacar uma fornecedora da Petrobras.

O surgimento de delatores que o implicavam e a revelação da existência de dinheiro vinculado a ele em contas secretas na Suíça complicaram ainda mais a sua situação, levando-o a ser o primeiro congressista réu na Lava Jato.

AFASTAMENTO

Em 5 de maio de 2016, dias após a Câmara aprovar a autorização para a abertura do processo de impeachment de Dilma, começou a derrocada de Cunha.

O STF o afastou do cargo e do mandato sob a acusação de que usava suas funções para atrapalhar as investigações.

Com a cassação, reassume uma vaga na Câmara dos Deputados o suplente José Augusto Nalin (PMDB-RJ), dono de uma cadeia de shoppings populares no interior do Rio. Em 2014 ele declarou ter patrimônio de R$ 9,1 milhões, sendo R$ 1,355 milhão "em espécie". Ele afirma que esse último valor se referia a saldo bancário

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