Duas pessoas do Paraná que estão na França relatam como está a situação após mais um atentando que matou 84 pessoas em Nice
Em Nice, parentes e amigos das vítimas cobriram as marcas de sangue que continuam no asfalto com flores, velas, bilhetes e bandeiras da França - Valery Hache/ AFP

O domingo ensolarado na Riviera Francesa foi de homenagens às vítimas do atentado que chocou o balneário de Nice, na noite de quinta-feira passada. Um passeio marítimo lembrou as 84 pessoas mortas atropeladas por um caminhão guiado pelo tunisiano Mohamed Lahouaiej Bouhlel, de 31 anos. 

A avenida beira-mar foi reaberta parcialmente ao tráfego de carros. O trecho de 2km onde ocorreu as mortes continuou bloqueada. Parentes e amigos das vítimas cobriram as marcas de sangue que continuam no asfalto com flores, velas, bilhetes e bandeiras da França. 

Apesar do forte esquema de segurança montado pelo governo francês, o clima é de apreensão. Em Paris, distante 932 km de Nice, onde no último ano dois grandes atentados levaram medo à população e aos turistas, a segurança já havia sido recobrada em função dos jogos da Europa, que terminou no domingo passado. "O clima está um pouco tenso em toda a França, mas os franceses não mudam a rotina por causa dos atentados", contou Alex de Souza Vettore, de 26 anos. 

Há sete anos ele trocou Cambé (Região Metropolitana de Londrina) por Paris e hoje é chefe de equipe em uma empresa de vidros. Ele comenta que é muito diferente para os brasileiros lidarem com as ameaças terroristas. "Não estamos acostumados com isso. Esse pessoal (terroristas) não tem medo da morte e levam quem puder junto." 

Nos dois atentados em Paris, o paranaense estava em casa e contou que mudou a rotina nos dias seguintes. "Evitávamos ao máximo entrar dentro de trens e lugares turísticos. Mas a segurança estava muito forte aqui naquela época, tinha policiais para todo canto. Era o que acalmava um pouco o pessoal. Mas os franceses nunca param suas vidas a custa disso e nem os brasileiros." 

Em janeiro do ano passado, os irmãos Said e Cherif Kouachi invadiram a sede do jornal Charlie Hebdo e mataram 12 pessoas, entre elas o diretor do semanário e vários cartunistas de renome e dois policiais. Em novembro, o mundo ficou estarrecido com os ataques à famosa casa de shows Bataclan e vários bares e restaurantes, no centro da capital francesa e nos arredores do Stade de France. Cento e trinta pessoas morreram e mais de 350 ficaram feridas. 

Desdes os ataques, há esquemas de revistas nos lugares fechados como shopping e museus. Nos metrôs há muitos polícias disfarçados, comentou Vettore. 

Ele não pensa em voltar ao Brasil, por causa das ondas de atentados, mas está preocupado. "Se começar a ficar muito perigoso e houver mais atentados aqui em Paris, voltarei sim ao Brasil. Não podemos brincar com a sorte", afirmou. 

A jornalista londrinense Elvira Fantin, de 52 anos, que mora em Curitiba, está de férias em Paris com a família e adotou medidas de segurança e evitou lugares com grandes aglomerações. "Fomos assistir ao desfile de 14 de julho, mas vimos mais de longe. No final da tarde, fomos ao Campo de Marte com intenção de assistir à queima de fogos na Torre Eiffel que seria às 23h, mas acabamos desistindo por conta do grande número de pessoas. Mas os franceses pareciam bem à vontade", relatou. 

Ela contou que no dia seguinte às mortes em Nice suspeitava que haveria lugares fechados e clima de tensão em Paris, mas se surpreendeu com a normalidade. " Fizemos as visitas que havíamos programado no Louvre e outros museus, andamos pelas ruas e praças. Muita gente nas ruas, nos cafés, restaurantes. Parisienses e turistas de todas as partes do mundo aparentemente tranquilos." 

DESAPARECIDOS 

Dos 202 feridos em Nice, 85 continuavam internados ontem, 28 deles em estado grave. Nos hospitais parentes buscavam informações sobre desaparecidos. Entre eles, está a brasileira Inês Gyger, que mora na Suíça, e busca informações sobre a filha Elizabeth Cristina de Assis Ribeiro. 

Elizabeth e a filha, Kayla, de 6 anos, foram atropeladas pelo caminhão dirigido por Bouhlel. A menina morreu. O marido de Elizabeth, o suíço Sylvan Soliz, viu quando a mulher foi levada desacordada em um carro do Corpo de Bombeiro. "Ninguém sabe se ela estava desmaiada ou morta", diz Inês. Sylvan conseguiu salvar as duas filhas menores, Djulia, 4, e Kymea, 6 meses. Os três continuam internados. 

De sete brasileiros que o Consulado buscava desde a noite de quinta-feira, três continuam desaparecidos. Dois foram localizados em Gênova, na Itália, para onde haviam seguido viagem. 

O presidente interino, Michel Temer, determinou que o Ministério das Relações Exteriores redobre os "esforços para dar total assistência aos brasileiros atingidos pelo atentado na cidade francesa de Nice". 

Em nota, a secretaria de comunicação da Presidência afirma que "todos os meios do governo federal serão colocados à disposição das famílias na busca de informações e para atender suas eventuais demandas por auxílio neste momento". (Com Fernanda Godoy, Folhapress)

Alex de Souza Vettore: "Se começar a ficar muito perigoso e houver mais atentados, voltarei sim ao Brasil"

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Elvira Fantin: "Parisienses e turistas de todas as partes do mundo estão aparentemente tranquilos"

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