Delator da Lava-Jato, um dos donos da JBS afirma que Lula e o PT "institucionalizaram" a corrupção no país e que modelo foi reproduzido por outras siglas
Foto: AFP PHOTO / BRAZIL PHOTO PRESS

O empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo de beneficiamento de carne JBS, disse em entrevista à revista Época que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT "institucionalizaram a corrupção" no País, cujo modelo foi reproduzido por outros partidos. Conforme o entrevistado, que é delator na Operação Lava-Jato, "há 10, 15 anos houve uma proliferação de organizações criminosas no Brasil". E o grupo participou e teve de financiar muitas delas, afirmou o empresário, que indicou o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega como o seu contato no PT.

"Foi no governo do PT para a frente. O Lula e o PT institucionalizaram a corrupção. Houve essa criação de núcleos, com divisão de tarefas entre os integrantes, em Estados, ministérios, fundos de pensão, bancos, BNDES. O resultado é que hoje o Estado brasileiro está dominado por organizações criminosas. O modelo do PT foi reproduzido por outros partidos", declarou Joesley.

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Dinheiro para Mantega na Suíça

O presidente do JBS, que fixou residência nos EUA, esteve no Brasil esta semana e depôs na Polícia Federal. Vários pontos da entrevista repetem o que ele disse aos policiais. Apesar de citar Lula, Joesley admitiu que nunca teve "conversa não republicana com o ex-presidente". Ele afirmou que seu interlocutor no PT era Guido Mantega. "Não estou protegendo ninguém, mas só posso falar do que fiz e do que posso provar. Não estou entregando pessoas. Entreguei provas aos procuradores. E o PT tenha o maior saldo de propina. O que posso fazer se a interlocução era com o Guido?"

O empresário citou repasses ilícitos envolvendo um esquema de corrupção no BNDES e disse que o "crédito" que "o PT gastou para comprar a eleição de 2014" chegou a R$ 300 milhões. Joesley disse ainda que quando eram liberadas parcelas de financiamentos captados no banco de fomento, ele "creditava o valor da propina na conta do Guido na Suíça".

Pedido de Dilma para ajuda a Pimentel

Joesley isenta de responsabilidade nos crimes o ex-presidente do banco, Luciano Coutinho e o corpo técnico. "Nunca pagamos um centavo de propina dentro do BNDES."Ainda sobre propinas pagas ao PT, o empresário reiterou o que relatou em sua delação e disse que a ex-presidente Dilma Rousseff pediu R$ 30 milhões para o atual governador de Minas Fernando Pimentel na eleição de 2014. Ao afirmar, contudo, que o PT inaugurou esse "sistema" de corrupção, Joesley disse que ele seguiu no PMDB e agora "está no PSDB".

"Temer é chefe de quadrilha"

O empresário, que na entrevista acusou o presidente Michel Temer de ser o chefe de uma organização criminosa envolvendo peemedebistas na Câmara dos Deputados, disse também que decidiu delatar porque não poderia esperar ser preso ou ver sua empresa quebrar."Quando percebi que as coisas não iam mudar e não havia o que esperar, que os políticos não estavam entendendo o que estava acontecendo com o País, aí comecei a registrar minhas conversas. Fui ao Temer. A empresa não aguentaria mais tanta investigação."

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Joesley disse que até o fim do ano passado continuava conversando bastante com os políticos, tentando encontrar uma solução para as investigações. Segundo ele, Temer comandava um movimento para segurar a Lava-Jato. "Geddel articulava a anistia ao caixa 2 e Renan articulava o projeto de abuso de autoridade, quando era presidente do Senado. Era uma pauta dele. Mas os dois assuntos morreram", disse.

Compra do silêncio de Cunha e Funaro

O empresário afirmou também que decidiu gravar a conversa com o presidente da República no Palácio do Jaburu, em março, para saber se a "agenda" de Temer passava pela compra do silêncio de Lúcio Funaro e do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ambos presos pela Lava-Jato — Joesley alega que era cobrado constantemente pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-RJ), classificado por ele como o "mensageiro" do presidente para que pagasse o silêncio de Cunha e Funaro. Isso foi feito, com mesadas aos dois presos.

Segundo ele, a maneira mais efetiva de fechar a colaboração era mostrar que "os políticos, no topo, não mudaram nada". "Isso começa com o número 1, com o presidente da República."

Aécio é o número 2 

Na extensa entrevista à Época, Joesley declarou ainda que as organizações criminosas usavam as eleições para ganhar dinheiro.

"A campanha é um evento que permite ao político sair por aí pedindo dinheiro. O que ele faz com o dinheiro a gente não sabe", afirmou.

O empresário e delator falou também que o PSDB entrou no leilão para a compra de partidos na eleição de 2014 e disse que Aécio tentou arregimentar o PR por R$ 35 milhões.

Joesley chamou o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) de número 2. "Porque era a alternativa. Teve 48% dos votos dos brasileiros. E tinha entrado no governo Temer", disse.

Áudio sem edição

O empresário assegurou que não há possibilidade de que tenha sido editado o áudio gravado na conversa dele com o presidente Michel Temer, no Palácio do Jaburu. A gravação passa por perícia na Polícia Federal.

"De modo algum. Zero. Zero. Gravamos e entregamos. Podem fazer todas as perícias do mundo. Tentam desqualificar o áudio por desespero."

Estadão Conteúdo

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