A derrota na final da Copa de 50 em casa deixou traumas e legados. O então garoto Édson Arantes do Nascimento, ao ver seu pai chorar pela derrota, prometeu, comovido, que ainda lhe daria uma copa. Aquela geração de atletas, ditos derrotados, perdedores, fora abandonada pelo país ao ponto de, no final de sua vida, um triste Barbosa dizer com razão que sua pena era a maior que um brasileiro tinha sido condenado.

Édson virou Pelé e seu pai, caso estivesse vivo, teria recebido três copas, não uma.

Barbosa, na pobreza, vagava como um amaldiçoado, lamentando ser o bode expiatório de um evento onde o país preferiu condená-lo a efetivamente nominar os verdadeiros culpados. Lembremos, o país não pertencia ao círculo dos melhores no esporte e os treinamentos e descanso dos atletas fora comprometido pelo “clero de importantes e políticos”.

O tempo passou, o Brasil foi tri, sofreu em 82, depois penta e orgulha-se em ser o único a ter participado de todas as copas; dessa forma, partiu para 2014, em casa, convicto de um poderio não mais existente.

O fiasco do 7 a 1 no Mineirão frete a Alemanha não teve nenhuma serventia a não ser o de escancarar a realidade nacional (CBF, governo, propinas, valores gastos com a copa, obras superfaturadas e inacabadas) e de anistiar Bigode e trupe do fardo de 50.

Mesmo assim, seja na política como na CBF, nada mudou. Os dirigentes das federações seguiam com os desmandos, Teixeira, Marin e caterva continuavam processados e nenhuma mudança permitia alguma esperança.

Pra piorar, o comando da seleção foi devolvido a Dunga, mentor intelectual da derrota de 2010 frente a Holanda. Apenas elucidando, colegas da imprensa paulista foram categóricos em afirmar que o treinador ficou ensandecido no vestiário, durante o intervalo, na melhor apresentação de sua equipe até o momento. Após a explosão de Dunga, Felipe Melo teria saído do seu melhor juízo e, pilhado pelo mestre, fez o que todos nós já sabemos.

Com Dunga o novo Brasil não rendia e figurava fora até da vaga da repescagem da Copa. Com nove pontos em seis partidas e prestes a disputar as Olimpíadas, Dunga foi demitido e Adenor Bacchi, o Tite, assumiu a bucha, melhor dizendo, a seleção.

Tite no momento estava questionado. Vencia partidas por um a zero e era chamado de empaTite pela mídia especializada. Era notavelmente o único treinador nacional confiável, mas poucos imaginavam que fosse ter o mesmo sucesso de sua história nos times com a canarinho.

Tite manteve Micale na seleção olímpica e, atuando com proximidade, ajudou a montar o elenco com o qual o país finalmente venceria o ouro. De quebra, elevou Jesus, um jovem atacante, à outra categoria.

Com muitas responsabilidades, atendendo uma instituição arcaica e corrupta, Tite recebeu a incumbência de manter a escrita e entregar o Brasil na Copa.

Adenor num primeiro momento chamou homens de sua confiança e alguns com os quais gostaria de ter trabalhado. Dessa forma, montou sua primeira convocação. Com o passar dos tempos os resultados vieram, jogadores foram recuperados e o Brasil, nos oito jogos pelas eliminatórias, marcou vinte e quatro pontos, fez vinte e três gols e sofreu apenas dois (um de pênalti e um contra).

O segundo Colocado nas eliminatórias, a Colômbia, soma vinte e quatro pontos, mas em catorze partidas, tendo feito apenas dezoito gols, cinco a menos que o Brasil no “período Tite”.

Adenor surpreendeu não apenas os brasileiros, mas o mundo do futebol como um todo. O Brasil após seu comando sequer empatou uma partida. Com nove vitórias seguidas, Tite coloca-se como treinador recordista em triunfos consecutivos pela seleção. Hoje, o Brasil voltou a liderar o ranking da FIFA e, com quatro rodadas de antecedência, garantiu classificação à Copa de 2018 na Rússia, sendo a primeira seleção classificada. O Outro país já confirmado é a Rússia, que tem direito à vaga por ser o país sede.

Ufanismos à parte, Tite não é um virtuoso tático. É um treinador com visão de jogo interessante mas que tem no trato humano seu grande diferencial. Dessa forma, fez com que o defenestrado Paulinho, hoje no futebol Chinês, fosse o primeiro volante da seleção a marcar três gols numa partida, apenas para exemplificar.

Sem “família Tite” mas com um cotidiano de respeito e hierarquia, Adenor agrega seus comandados e colaboradores numa jornada que está apenas começando. Inteligente, o treinador antecipou que aproveitará as partidas restantes para testar e avaliar nomes com quem ainda não atuou.

Assim, a um ano do maior evento do futebol mundial, Adenor Bacchi, o Tite, já com o passaporte carimbado e as passagens compradas, devolveu o orgulho e respeito do futebol brasileiro e envereda na senda de atuar com a dignidade e a competitividade que o futebol brasileiro pressupõe.

Parabéns Tite, principalmente porque a CBF continua a mesma.


David Formiga - Narrador Esportivo na Rádio Paraná Clube

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